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Por que as Testemunhas de Jeová foram banidas da Rússia?

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Justiça russa proibiu atividades das Testemunhas de Jeová no país; na foto, sessão de julgamento

Em 20 de abril de 2017, o Supremo Tribunal russo declarou como extremistas as atividades do Centro de Gestão das Testemunhas de Jeová e decidiu proibir o seu trabalho no território de todo o país.

Além disso, propriedades do grupo devem ser apreendidas e passar para as mãos do Estado. Antes de o Supremo Tribunal ler o veredicto, várias investigações foram conduzidas sobre as atividades do grupo no país.

Concluiu-se que as Testemunhas de Jeová violam o seu próprio estatuto e infringem a lei russa sobre a luta contra o extremismo, especialmente o Capítulo III da Lei Antiterror, que define as condições da atividade missionária de grupos religiosos.

Quem são

As Testemunhas de Jeová começaram suas atividades no estado da Pensilvânia, EUA, em 1870, sob o nome ‘Estudo Bíblico do Amanhecer do Milênio’ (Millennial Dawn Bible Study).

As crenças da organização são baseadas em seu entendimento da Bíblia e utilizam a terminologia cristã. No entanto, eles rejeitam a maioria dos dogmas cristãos, como a Trindade e a imortalidade da alma. Suas principais atividades são a difusão dos seus ensinamentos de modo e na venda de literatura própria.

Atualmente, o número de seus seguidores atinge 8 milhões e só na Rússia ultrapassa 175 mil pessoas. Suas revistas figuram no Livro Guinness como as mais lidas no mundo. Em média, todos os dias, cerca de 800 pessoas se tornam seguidoras da organização.

A história se repete

As Testemunhas começaram as atividades na Rússia em 1891, quando seu líder, Charles Russell, visitou a cidade de Odessa. No início do século XX, os primeiros materiais impressos, escritos em alemão, chegaram ao território do Império Russo. No entanto, naquela época, as Testemunhas de Jeová não gozaram de grande popularidade entre a população, recebendo um número muito limitado de seguidores.

Nos tempos soviéticos, quando o grupo já contava com vários milhares de seguidores, as autoridades submeteram-no à repressão por causa da recusa dos membros de servir ao exército da União Soviética e de se juntar ao Partido Comunista.

Assim, no âmbito da campanha de combate a ‘elementos antissoviéticos’, cerca de 10.000 testemunhas foram deportadas da parte central do país para a Sibéria, Cazaquistão e para o Extremo Oriente.

As restrições não foram abolidas até 1965, quando o Soviete Supremo da URSS libertou os seguidores do controle administrativo. Além disso, em 1996, o presidente Boris Yeltsin readmitiu todas as Testemunhas que foram deportadas, reconhecendo-as como vítimas da repressão política.

Em 27 de maio de 1991, as Testemunhas de Jeová conseguiram o seu registro oficial e estatuto de pessoa jurídica, concedido pelo Ministério da Justiça.

Mas este não é o primeiro caso em tribunal que a organização enfrentou no país. A questão da dissolução da organização foi discutida pela primeira vez em novembro de 1998, em Moscou. O Ministério Público acusou a comunidade de incitar o ódio religioso, de “destruir famílias” e de inclinar as pessoas com transtornos mentais a recusar assistência médica.

Além disso, eles foram acusados de recrutamento de menores e de incentivar o suicídio a alguns de seus membros. Assim, em 2004, uma das comunidades das Testemunhas de Jeová foi dissolvida por um tribunal de Moscou.

Em outubro de 2016, outro tribunal, desta vez na cidade russa de Petrozavodsk, delegou uma multa ao grupo por posse de material impresso de natureza extremista.

Além disso, os defensores se opõem fortemente a muitos aspectos do Estado, tais como o serviço militar (que é obrigatório na Rússia) e processos eleitorais em todos os níveis de gestão do Estado. O Ministério da Justiça, por exemplo, registrou vários casos em que Testemunhas não só não compareceram às urnas, como também tentaram desencorajar outros cidadãos a votar.

Contrários à transfusão

No entanto, a principal razão para o julgamento do Ministério da Justiça deste ano foi a proibição das Testemunhas de Jeová de que seus membros recebam transfusões de sangue. A crença já levou à morte de várias crianças russas, incluindo Vanya Orlukóvich, de 10 anos, que morreu em setembro de 2010 depois de sua mãe, adepta fiel da corrente, se recusar a dar consentimento para transfusão.

A história de Vanya não foi a única. Em 3 de fevereiro de 2010, Seriozha Podlozhevich, um menino de cinco anos, portador de deficiência e morador da cidade de Kogalym, foi internado com o diagnóstico de úlceras do trato gastrintestinal e anemia grave. Médicos prescreveram uma transfusão urgente de glóbulos vermelhos. No entanto, a mãe do menino, também uma adepta das Testemunhas de Jeová, categoricamente proibiu o procedimento.

Adeptos acreditam que receber o sangue é como comê-lo e comer sangue é o mesmo que comer a alma humana. E, embora o direito da autonomia individual esteja consagrado nas leis de muitos países, no caso de menores ou de pessoas com deficiência que não podem decidir por si mesmos, os hospitais são obrigados a ir a um tribunal para que uma Testemunha de Jeová possa receber uma transfusão sem a permissão de seus pais ou responsáveis.

Controle total

Ao contrário de outras denominações cristãs, as Testemunhas de Jeová controlam rigorosamente os membros de sua comunidade e limitam a liberdade de seus movimentos. Além disso, a posição das mulheres no seio das comunidades das Testemunhas contradiz o princípio da igualdade de gênero.

Vários especialistas sugerem que as Testemunhas não só impõem uma regulamentação rigorosa em todos os aspectos da vida diária, como também limitam os direitos humanos dos seus seguidores, enganam no recrutamento e os exploram.

Além disso, Testemunhas se opõem que os seguidores recebam ensino superior, o que limita o seu direito à igualdade de acesso à educação. Uma das ex-adeptas afirmou, no julgamento na Rússia, que ela teria sido proibida de se comunicar com os membros da família que não pertenciam à corrente.

O grupo, no entanto, nega que seja fundamentalista ou tenha tendências totalitárias, e insiste que prega somente uma interpretação da Bíblia.

Após a decisão na Rússia, o porta-voz do grupo no país, Yaroslav Sivulskiy, afirmou que as Testemunhas de Jeová iriam apelar da sentença.  “Estamos muito decepcionados com o que aconteceu e profundamente preocupados em como isso vai afetar nossas atividades religiosas. Esperamos que nossos direitos protegidos por lei como grupo religioso pacífico sejam plenamente restabelecidos o mais rápido possível”, disse.

(*) Publicado originalmente em Sputnik

Fonte:  http://operamundi.uol.com.br


Livro Wicca no Brasil: Magia, Adesão e Permanência

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livromeucamaEsse ano lancei meu primeiro livro com única autoria. Ele já estava pronto desde 2012, já que é minha dissertação de mestrado, no entanto, só resolvi lançar esse ano. O titulo foi alterado, ficou: Wicca no Brasil: Magia, Adesão e Permanência.

Resumo:

A religião Wicca teve início na década de 50 do século XX na Inglaterra e, desde então, adentrou em diversos outros países, sendo um deles o Brasil, onde o movimento wiccano se encontra consolidado – embora seja pouco conhecido e menos ainda estudado. O conhecimento da sua dinâmica social descortina perspectivas interessantes para a compreensão dos novos movimentos religiosos brasileiros. Este trabalho busca, então, identificar entre os praticantes da Wicca, da Região Metropolitana do Recife, tanto solitários, quanto membros de grupos, os meios pelos quais, e as motivações que, levaram ao ingresso e permanência deles na religião. Para isso foi feito um estudo do desenvolvimento histórico da Wicca na Inglaterra e Estados Unidos, uma pesquisa documental da Wicca no Brasil, e uma história oral e descrição fenomenológica do movimento wiccano no Grande Recife. Foram aplicados quarenta questionários e feitas quatro entrevistas. A interpretação dos dados obtidos na bibliografia, documentos, entrevistas e questionários apoiou-se no conceito de “escolha racional”, desenvolvido na sociologia da religião de Stark e Bainbridge.

Apresentação

É com muito prazer, ousadia e felicidade que apresento aos leitores brasileiros o primeiro livro acadêmico sobre Wicca e Neopaganismo no Brasil. Ele é o fruto da minha dissertação de mestrado, defendida em 15 de março de 2012. E já foi lida por milhares de pessoas, que sempre vêm me parabenizar pelo original, inovador, laborioso e subversivo trabalho. Esta última qualidade diz respeito ao preconceito que carregamos ao trabalhar com temas pouco estudados e desconhecidos dos demais colegas acadêmicos. Sendo para mim um deleite adentrar por caminhos ignorados. Original e inovador, pois traça a história do movimento no Brasil, e na cidade do Recife, ainda analisando as motivações para a adesão e permanência nessa religião mágica. Laborioso, pois aplico vários métodos de pesquisa para alcançar resultados satisfatórios e conteúdos ricos. Salientamos que a pesquisa e conteúdo do livro se referem até o ano citado. Nos últimos 05 anos, desde que escrevi esse trabalho, muita coisa se criou e mudou, e poderá ser observada nos meus artigos recentes, e na minha futura tese de doutorado, que está em caminhamento.

Desejo a todos uma ótima leitura, e que as descobertas e cortinas abertas por esse livro possam abrilhantar e despertar a consciência de mundos, percepções e perspectivas diferentes das comumente encontradas em qualquer olhar banal, direcionado, e mesmo imposto. Que sirva para o diálogo religioso, amor e paz entre as pessoas, na difícil teia social. Que o diferente cause empatia e a busca pela alteridade.

“Viver é a grande magia, e o grande feitiço consiste em viver livre\o e com harmonia.”
Karina Oliveira Bezerra

Em breve estará a venda na livraria Saraiva e já pode ser comprado comigo (é melhor! :D ), é só mandar um e-mail para karina.olibe@hotmail.com ou mandar uma mensagem para o Facebook: Karina Ártemis Afrodite.

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Dia 31 de outubro é declarado por lei, o Dia das Bruxas Wiccas, no Estado de São Paulo.

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Claudiney Prieto, sacerdote da Wicca, e um dos maiores propagadores dessa religião no Brasil, postou em seu Facebook, no dia 14 de outubro, a notícia de que em parceria com a deputada Clécia Gomes, conseguiu a vitória da instituição do:

“Dia Estadual dos Wiccanianos, Cultuadores do Sagrado Feminino, Pagãos e Praticantes das Artes Mágicas.”

Veja abaixo a Lei na íntegra:

Lei 16309/16 | Lei nº 16.309, de 13 de setembro de 2016 de São Paulo

Institui o “Dia Estadual dos Wiccanianos, Cultuadores do Sagrado Feminino, Pagãos e Praticantes das Artes Mágicas”.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:

Artigo 1º – Fica instituído o “Dia Estadual dos Wiccanianos, Cultuadores do Sagrado Feminino, Pagãos e Praticantes das Artes Mágicas”, a ser comemorado, anualmente, em 31 de outubro.

Artigo 2º – Entendem-se por praticantes da religião Wicca os cultuadores do sagrado feminino, os pagãos, os neopagãos e os praticantes de artes mágicas, bem como seus adeptos e simpatizantes.

Artigo 3º – A data instituída por esta lei passa a integrar o Calendário Oficial do Estado.

Artigo 4º – Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, aos 13 de setembro de 2016.

Geraldo Alckmin
José Roberto Neffa Sadek
Secretário Adjunto, Respondendo pelo Expediente da Secretaria da Cultura
Márcio Fernando Elias Rosa
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
Samuel Moreira da Silva Junior
Secretário-Chefe da Casa Civil Publicada na Assessoria Técnica da Casa Civil, em 13 de setembro de 2016.

Publicado em : DO 14/09/2016 – Seção I – p. 1 Atualizado em: 14/09/2016 12:32 16309.doc

A motivação para a criação do Dia dos Wiccanianos, veio em resposta a uma Lei sancionada pela presidência da república, no dia 12 de janeiro de 2016.  Ela instituiu o dia 31 de outubro – conhecido mundialmente como dia das bruxas -  como o Dia Nacional da Proclamação do Evangelho. Confiram abaixo:

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A alegação da escolha do dia 31 de outubro, se baseia no conhecido internacionalmente, Dia da Reforma – que comemorará 500 anos no ano que vem. Quando a Lei  foi instituída passou despercebida pelos jornais, sofrendo apenas algumas críticas em blogs de defensores do Estado Laico – que percebem o claro privilégio oferecido pelo Estado às religiões cristãs, e pelos neopagãos.

A Wicca, a religião neopagã  mais conhecida, apesar de ter obtido reconhecimento, legitimidade, e crescimento  nos seus 30 anos de existência no Brasil, ainda é alvo de discriminação e intolerância religiosa. O 31 de outubro é  um dos dias de celebração ritualística no seu  calendário religioso, e mundialmente a data mais conhecida pelos leigos.

Caso vivêssemos em um país de fato laico e sem intolerância religiosa, a coincidência das datas poderia ser celebrada até de forma irônica. Mas, mediante as violências e injustiças que pessoas não cristãs sofrem, a instituição oficial pelo Estado, de ampla divulgação do Evangelho, no dia das bruxas, faz lembrar a instituição da Inquisição.

Portanto,  em defesa da pluralidade religiosa e na garantia de legitimação, outros Estados estão se mobilizando para instaurar a Lei conseguida no Estado de São Paulo. Clique aqui para ver a petição para o deputado Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro.

E o intuito é alcançar o reconhecimento nacional.

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Em transmissão ao vivo pelo Facebook, o sacerdote Claudiney Prieto, e a deputada Clécia Gomes, explicam o processo de obtenção da Lei. Confiram:

 

Agora é lei: Dia 31 de outubro é o dia das Bruxas no estado de SP!
Lei 16309/16

Posted by Claudiney Prieto on Wednesday, September 14, 2016

Ópera Rock em desenho animado, conta a mitologia suméria, à qual a bíblia foi inspirada.

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ANUNNAKI – Mensageiros do Vento é uma Ópera Rock em desenho animado.

A história é livremente inspirada nas traduções das antigas tabuletas de argila da Suméria, tidas por muitos como a primeira civilização humana. O filme conta a saga dos Anunnaki, “aqueles que do céu para a terra vieram”, tal como é contada nas tabuletas sumérias. Vindos de Nibiru, os Anunnaki buscam o ouro da Terra para solucionar o desequilíbrio na atmosfera de seu planeta natal. E assim criam a espécie humana, ao misturar seus genes a uma raça nativa, com o objetivo de obter trabalhadores para as minas de ouro. Então uma nova aproximação de Nibiru provoca um dilúvio que quase extermina a humanidade, que logo em seguida enfrenta outro grave perigo: disputas de poder entre os Anunnaki, culminando na deflagração de armas nucleares.

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento foi um projeto aprovado no Edital de Música do Fundo de Cultura e patrocinado pela Secretaria de Cultura da Bahia.

Assista a seguir os 28 episódios:

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 01 – ENUMA ELISH: O PRINCÍPIO CELESTIAL

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 02 – ABDUÇÃO DE ENDUBSAR

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 03 – CRÔNICAS DE NIBIRU

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 04 – NOTÍCIAS DE UM MUNDO DISTANTE

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 05 – ERIDU

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 06 – NOTÍCIAS DE UM MUNDO DISTANTE II

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 07 – AS MINAS DE ABZU

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 08 – O ROSTO EM MARTE

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 09 – ESTAÇÃO LAHMU

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 10 – A REBELIÃO DOS ANUNNAKI

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 11 – A SOLUÇÃO

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 12 – A CRIAÇÃO DE ADAMU

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 13 – PARAÍSO PERDIDO

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 14 – VIAGEM À LUA.

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 15 – HUMANA EXPERIÊNCIA

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 16 – KA IN E ABAEL

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 17 – A ERA DOS GIGANTES

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 18 – ALGO TERRÍVEL ESTÁ POR VIR

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 19 – O MENSAGEIRO DO CRIADOR

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 20 – O GRANDE DILÚVIO

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 21 – A DIFÍCIL ARTE DE RECOMEÇAR

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 22 – INANNA E DUMUZI

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 23 – O RETORNO DE ANU

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 24 – AS QUATRO REGIÕES

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 25 – BABEL

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 26 – A IRA DE MARDUK

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 27 – É O FIM

ANUNNAKI – Mensageiros do Vento – 28 – O VENTO MALIGNO

Veja a página do projeto no Facebook:  https://www.facebook.com/anunnakimensageirosdovento/?fref=ts

Entrevista da Universidade Lusófona sobre Paganismo

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A Área de Ciências da Religião da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, tem o Projeto Conversas em Religião. Num clima de Respeito, dialoga-se com líderes religioso para dar a conhecer, sem preconceitos nem sentidos proselitistas, os seus movimentos a quem se interesse por este fascinante universo que são as Religiões e as Espiritualidades.

Em 2015, teve vez uma entrevista sobre o Paganismo, sendo a entrevistada Mariana Vital. Esta é a delegada para o diálogo interreligioso da Federação Pagã Internacional  em Portugal, registrada desde 1997 como  PFI- Associação Cultural Pagã. Vital também é mestre em Ciências da Religião pela Universidade Lusófona, foi organizadora do World Interfaith Harmony Week e é coordenadora para o diálogo interreligioso da PFI, na Europa.

Assistam a entrevista a seguir:

Papa diz que “comunistas pensam como os cristãos” e evita “julgar” Trump

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O papa Francisco afirmou que “são os comunistas os que pensam como os cristãos”, ao responder sobre se gostaria de uma sociedade de inspiração marxista, em entrevista publicada nesta sexta-feira no jornal italiano “La Repubblica“. O papa ainda evitou fazer um julgamento pessoal sobre o presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

“São os comunistas os que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam. Não os demagogos, mas o povo, os pobres, os que têm fé em Deus ou não, mas são eles a quem temos que ajudar a obter a igualdade e a liberdade”, disse.

Papa Francisco disse esperar que os Movimentos Populares entrem na política, “mas não no político, nas lutas de poder, no egoísmo, na demagogia, no dinheiro, mas na política criativa e de grandes visões”.

Questionado sobre o que achava do presidente eleito dos EUA, Francisco disse: “Não faço julgamentos sobre pessoas e homens políticos, quero apenas entender que sofrimento o comportamento deles causa aos pobres e aos excluídos”.

Francisco disse que sua maior preocupação é o drama dos refugiados e imigrantes, e reiterou que é necessário “acabar com os muros que dividem, tentar aumentar e estender o bem-estar, e para eles é necessário derrubar muros e construir pontes que permitam diminuir as desigualdades e dar mais liberdade e direitos”.

Mais cedo neste ano, o papa sugeriu que a posição de Trump sobre a imigração, que inclui uma promessa de campanha de construir um muro na fronteira entre EUA e México para manter afastados os imigrantes ilegais, “não era cristã”. Um porta-voz papal disse posteriormente que a declaração não foi um ataque pessoal.

Sobre os supostos “adversários” que tem no seio da Igreja, Francisco afirmou que não os chamaria assim e que “a fé une todos, embora naturalmente cada um veja as coisas de maneira diferente”.

Fonte: http://noticias.uol.com.br

Cubano do Mais Médicos reduz uso de antibióticos em aldeia indígena ao resgatar plantas medicinais

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Salazar resgatou uso de plantas medicinais cujos benefícios são comprovados pela ciência. Foto: OPAS

Na aldeia Kumenê, no Oiapoque, indígenas consumiam antibióticos de forma inadequada e excessiva. Médico cubano Javier Isbell Lopez descobriu que hábito estava associado à história do local, onde missionários evangelizaram os habitantes e os convenceram de que a utilização de plantas medicinais era um tipo de ‘feitiçaria’ que devia ser banido. Reintrodução de ervas com benefícios comprovados pela ciência reduziu uso de medicamentos.

Ao chegar à aldeia Kumenê, localizada no Oiapoque, extremo norte do Amapá, o cubano Javier Isbell Lopez Salazar se tornou o primeiro médico fixo da comunidade. Ele começou a atender a população local, formada por indígenas Palikur, em maio de 2014 e logo descobriu que os habitantes da região enfrentavam uma das maiores ameaças globais de saúde: o uso excessivo e inadequado de antibióticos.

O consumo inadequado dos medicamentos estava associado à chegada de dois missionários à região, na década de 1960. Os religiosos lá ficaram por mais de dez anos, durante os quais se dedicaram à evangelização da etnia. Os indígenas foram convencidos de que a utilização de plantas medicinais e chás era um tipo de “feitiçaria” e, por isso, tal hábito deveria ser banido.

As tradições acabaram sendo substituídas por dosagens abusivas de antibióticos. Para reverter o cenário, Salazar decidiu criar uma horta com plantas medicinais citadas na literatura científica que poderiam tratar grande parte dos problemas de saúde existentes na aldeia, como gripes e doenças diarreicas.

Em palestras e encontros com as lideranças e com os moradores do local, o profissional de saúde foi pouco a pouco desmistificando a crença de que as plantas seriam um tipo de “magia”. Elas, na verdade, poderiam ser utilizadas para salvar vidas.

“No começo, quando eu receitava alguma delas, eles jogavam fora e ficavam bravos comigo porque queriam antibióticos. Antes de ter médico aqui, eles faziam um uso excessivo de antibióticos e, hoje, as bactérias que circulam na comunidade têm resistência aos medicamentos disponíveis. Aos poucos, eles voltaram a acreditar no poder das plantas”, conta Salazar, que é um dos cooperados do Programa Mais Médicos.

Na horta do clínico, há plantas conhecidas popularmente como boldo, sabugueiro, “amor crescido”, babosa, manjericão, entre outras. O sabugueiro, segundo o médico, é extremamente eficaz para o alívio dos sintomas da gripe, uma das doenças mais frequentes na comunidade, pois tem efeito expectorante.

“No estudo epidemiológico que fiz, percebi que existem duas épocas do ano em que ocorrem vários casos. Em um desses períodos, no qual a gripe é bastante forte, começam a chegar os asmáticos. Faço um chá da planta com limão. Para as crianças, adiciono açúcar e faço um lambedor (espécie de xarope). Com uma xícara pequena de 12 em 12 horas, em dois dias os sintomas vão embora. Diferente do antibiótico, não há nenhum dano à saúde e está tudo demonstrado na literatura médica”, explica.

Educação em saúde supera preconceitos

Outra mudança trazida por Salazar e sua equipe de saúde foi a conscientização sobre os riscos de contaminação da água pelo despejo de resíduos domésticos nos rios. Segundo o médico, os indígenas costumavam construir seus banheiros próximos às margens do curso d’água que cerca a aldeia, localizada na confluência do Uaçá e do Curipi.

Isso fez com que a água — onde os moradores costumavam tomar banho — ficasse contaminada. Os poços também eram construídos ao lado dos sanitários.

“Explicando, conseguimos uma melhor qualidade de vida aqui. Um médico não pode se cansar. Eu me sinto bem porque já estou percebendo a mudança. Estou vendo que as medidas que estou tomando dão certo, pois as doenças estão desaparecendo. Estou ‘ganhando’ menos pacientes’”, comenta satisfeito.

O profissional já aprendeu algumas expressões na língua nativa da etnia Palikur e garante que a diferença de idiomas não é um impedimento à comunicação eficiente e a diagnósticos e tratamentos adequados.

Salazar e seus colegas do sistema de saúde também tem desenvolvido iniciativas de educação para o bem-estar. “Com isso, podemos conseguir uma mudança no estilo de vida de qualquer pessoa, seja indígena, branco ou extraterrestre. É possível prevenir várias doenças”, afirma o cubano.

“Eu realmente não tenho palavras para expressar o que eu sinto ao trabalhar aqui e digo isso de coração. Quando comecei eles eram anti-médico, tentavam evitar as consultas. Quando vinham ao posto de saúde, não olhavam de frente para mim, ficavam sentados olhando para o chão ou qualquer outro lugar”, lembra o médico sobre sua chegada a Kumenê.

“Hoje, eles chegam aqui e explicam direitinho o que estão sentindo. Com o tempo, com tantas palestras e tanta conversa, eles mudaram”, conclui.

Saiba mais sobre o Programa Mais Médicos aqui.

Fonte: https://nacoesunidas.org

Antigo tradutor do hebraico original diz que “a Bíblia não fala de Deus”

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Mauro Biglino trabalhou durante anos no Vaticano como tradutor de hebraico antigo para as Edizioni San Paolo, uma das mais importantes editoras católicas do mundo, que edita a Bíblia e outros livros católicos em todo o mundo, incluindo em Portugal (Editora Paulus). Era responsável pela tradução dos escritos originais da Bíblia, em hebraico, para a publicação em italiano pela editora pertencente à Sociedade de São Paulo, congregação fundada em 1914 pelo Beato Giacomo Alberione. Trinta anos depois de ter começado o seu trabalho como tradutor, publicou “A Bíblia não é um Livro Sagrado” (Livros Horizonte), obra polémica em que assegura: “A Bíblia não é aquilo que habitualmente se diz. Conta uma outra história, não se ocupa de Deus”.

Ao Observador, Biglino afirma que “não há qualquer referência a Deus nos textos da Bíblia. Há, sim, a um coletivo, chamado Elohim, e a um deles em particular, chamado Yaveh“. A dada altura, explica o autor, “as traduções foram sendo adulteradas e foram convertendo Yaveh num Deus único e todo poderoso”. E acrescenta: “Em hebraico nem sequer há nenhuma palavra que signifique Deus”. No seu livro, Mauro Biglino detalha o percurso das traduções oficiais da Bíblia, que foram adulteradas para “para inventar o monoteísmo”.

Biglino, que nasceu em 1950 na cidade italiana de Turim, aprendeu hebraico na comunidade hebraica de Turim. Mais tarde, a editora do Vaticano apercebeu-se dos trabalhos de tradução de Biglino, reconheceu o seu rigor e convidou-o para colaborar. “Além disso, perceberam que eu também conhecia latim e grego, línguas essenciais para entender o contexto dos textos bíblicos”, acrescenta.

“Em 2010, comecei a escrever um livro em que denunciava algumas das contradições que estava a encontrar nas minhas traduções dos textos bíblicos, e desde esse momento, a colaboração foi interrompida, acabaram o meu contrato de trabalho”, lembra. Biglino acrescenta que compreende “perfeitamente” a decisão da editora, uma vez que se tornou “inviável” estar ao serviço da editora e obter conclusões tão distintas.

Quando deixou de colaborar com as Edizioni San Paolo, Biglino publicou livros em que apresentou traduções literais, palavra por palavra, de vários textos bíblicos, que foram usados por historiadores para identificar imprecisões. Nesses livros, que mostravam lado a lado as palavras italianas e hebraicas, Biglino argumenta que a Bíblia contém diversas imprecisões facilmente demonstráveis. “É por isso que os críticos discordam das minhas conclusões mas não põem em causa o rigor das traduções”, sublinha.

“Quando eu digo que a Bíblia não fala de Deus, não digo que Deus não existe, porque não o sei. Digo apenas que a Bíblia não fala de Deus”, destaca, acrescentando que, no seu entender, “não se sabe nada sobre Deus”. Por isso, sublinha, “como Deus me é absolutamente desconhecido, não posso acreditar nele”. Mauro Biglino afirma ainda que não é o único a discordar das traduções oficiais da Bíblia, mas acrescenta que “não há muitos que tenham a coragem de divulgar as suas conclusões”.

Para o antigo tradutor, o seu trabalho pode mesmo ter influência nas futuras traduções da Bíblia, avançando que já se sentem alguns efeitos. “A profecia de Isaías, por exemplo, dizia que «a Virgem irá conceber e dará à luz um Filho», mas as bíblias alemãs, depois da aprovação da Conferência Episcopal, já não dizem isso. Já dizem que «a Virgem vai conceber», que é o que verdadeiramente lá está escrito”, destaca Mauro.

Contactada pelo Observador, a editora italiana confirmou que Mauro Biglino já deixou de colaborar com as Edizioni San Paolo “há muitos anos”, pelo que recusou comentar o trabalho atual do tradutor.

Fonte: http://observador.pt


Ilustrador cria cartazes e sinopses de animações sobre o folclore brasileiro

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“Folclore BR apresenta” é uma série de cartazes+sinopses para brincar com mashups de grandes filmes de animação (Disney, Pixar, Dreamworks e etc) misturados as lendas brasileiras. Esse veio na onda de Moana, animação recente da Disney.

Naiá : A lenda da Vitória-Régia

Sinopse:

“Naiá é uma jovem da tribo Iandé e devota a Jaci, deusa da Lua. O que ela mais deseja na vida é poder encontra-la um dia para lhe pedir o dom de se tornar uma estrela, independente do seu custo.

Uma criatura mística desconhecida ofereceu a Naiá uma oportunidade de conseguir encontrar a divindade, mas ela deveria seguir junto dela para buscar a resposta no fundo do rio. Obstinada pelo seu desejo, Naiá seguiu os dizeres do ser misterioso e se afogou.

Compadecida sobre a situação da sua fiel seguidora, Jaci devolve a vida a jovem transformando-a numa guerreira nomeada como Vitória-Régia, a estrela das águas. Como troca, a deusa lhe atribuiu a missão de descobrir quem é a sombria criatura que lhe enfeitiçou o quais seriam seus planos.

Naiá parte numa grande aventura pela vasta floresta junto de sua parceira Jurubeba, uma femêa de Mico-Leão-Dourado.”

O autor, Anderson Awvas, conta que:

Aproveitei o conceito de Vitória-Régia que já havia feito para o projeto e levei para uma esfera alegre e aventuresca proposta no visual de Moana. Reuni alguns elementos visuais de referência inspirados no rio Amazonas (como a Pororoca), criei a ideia da tribo fictícia “Iandé” (que significa “constelação de Órion” em Tupi-Guarani) e uma sinopse baseada no conto original da Vitória-Régia.

Continuando a série “Foclore BR apresenta”, o autor, Anderson Awvas, mergulhou junto do clássico “A pequena sereia”, animação de 1989, para dar vida a uma baita repaginação da lenda da sereia Yara.

A pequena Yara

Sinopse:

Yawara é um menino que seria o próximo na linha de sucessão como líder da sua grande família. Eles descendem da tribo indígena Araúna e procuram manter suas tradições, mas também tentam se atualizar aos novos paradigmas sociais.

Em seus sonhos, Yawara consegue conversar com a entidade Naiá, também conhecida como a estrela das águas (Vitória-régia), e confessa a ela que se sente como uma menina presa em um corpo de menino e por isso não poderia liderar sua família tradicionalista. Naiá lhe diz que isso não deveria impedi-la de ser quem ela é e que o melhor seria assumir o seu grandioso destino.

Ao contar a sua mãe sobre suas vontades, seu pai ouve e surge dizendo: “Você é uma abominação! Saia daqui! Você não merece estar nesta família e muito menos me suceder! ” e ameaça ataca-la. A menina corre e no caminho se acidenta caindo no rio e é levada por uma forte correnteza.

Ela acorda no fundo do rio podendo respirar e se percebe diferente. Acolhida por seres místicos que vivem no fundo do rio, foi levada para um grande palácio que fica em um lençol freático no subterrâneo da cidade onde vive.

Neste lugar, Yara, como prefere ser chamada agora, foi recebida como uma princesa e permanece por lá por algum tempo. Ao saber que seu pai abriu uma empresa que está poluindo os rios, resolve retornar para sua cidade decidida a tomar o seu lugar, destruir a empresa e levar novos paradigmas para sua família.

Junto do emotivo Piraya, um peixe piranha vegetariano, Yara parte na mais importante jornada da sua vida em busca de reconhecimento, defesa da natureza e, paralelo a isso, tentará entender o mistério que envolve sua transformação neste ser místico cheio de habilidades.”

Segundo o autor:

Comecei a ilustra me baseando no conceito que já tinha sobre esta lenda (revelando de quem é o olho símbolo do projeto Folclore BR) e decidi incrementar com outros elementos poucos convencionais, já que a lenda original é muito confusa (mais do que o normal) por ser uma mistura das lendas das sereias europeias com algumas histórias regionais comuns na maior parte dos estados cortados por grandes rios. Inclusive numa destas histórias a Yara foi derivada de Ipupiara, que contavam ser (pasme) um “homem-peixe” que vivia a beira dos rios atraindo pessoas para devorá-las (fonte: Livros do mestre pesquisador Câmara Cascudo).

Bem, essas informações foram o suficiente para que eu pensasse em trazer um personagem trans e abrilhantar esse projeto com um pouco mais (ainda mais) de representatividade para crianças sem querer trata-las como idiotas vivendo em uma bolha (desculpa o desabafo). Além de contar toda uma trajetória das mudanças que uma mulher trans passa durante a vida de uma forma lúdica, pensei que também seria uma boa forma para discutir questões como inclusão das tribos indígenas na sociedade atual e relação com a natureza.

Quanto aos demais elementos, coloquei o peixe piranha inspirado na espécie Piraya para ser o ser mascote. Na Yara, procurei adicionar esponjas e musgos ao que seria o cabelo da Yara para dar uma ideia meio afro e a calda seria como a barbatana de um peixe beta e como ela estaria batendo as pernas daria essa impressão de que seria uma calda só (pois elas estão indo em lados opostos). Yawara significa “cachorro” e Araúna (a tribo fictícia) significa “ave preta” em Tupi Guarani.

Continuando a série “Folclore BR apresenta” (misturebas de animações famosas e o folclore brasileiro), desta vez Anderson Awvas  apresenta a Mãe d’ouro numa repaginação para se encaixar no lado oposto ao frio congelante de Frozen, animação da Disney de 2013.

Mãe d’Ouro

Sinopse:

“Após um dia agitado, Aiyra recebe a visita de Fogo Fátuo, um pássaro de fogo que diz ter a missão de leva-la ao encontro de sua mestra. Contra sua vontade, Aiyra é guiada ao encontro de Inara, sua Mãe que havia desaparecido quando era muito pequena.

Sua mãe revela sua forma e se torna uma entidade celestial conhecida entre os humanos como “Mãe d’Ouro”. Aparentemente enfraquecida, ela e lhe concede poderes para que a pequena moça de coração forte possa libertar o reino dourado existente no fundo de uma caverna. Reino este que foi dominado por um ser maligno lendário chamado Anhangá-pirau e somente Aiyra pode evitar uma catástrofe que está para eclodir.

Para cumprir esta missão ela terá a ajuda do fiel Fogo Fátuo para enfrentar vários desafios em um labirinto cheio de quebra-cabeças no interior desse reino fantástico.”

O autor conta que:

Tenho uma outra ideia para a Mãe d’ouro e queria preserva-la como uma entidade mais superiora e achei que trazendo uma nova personagem para ganhar poderes torna tudo mais interessante e menos apelativo. A Mãe d’ouro é lenda mais conhecida de regiões mais ao sul/sudeste do Brasil, geralmente representada como uma mulher com cabelos dourados que se transforma em uma bola fogo (ou vice-versa) e é defensora de jazidas de ouro que não devem ser tocadas pelo homem.

Aiyra, nome da personagem principal, significa “filha” em Tupi guarani ou uma possível variável de “A’irah” que significa “aquela que não tem dono” ou “aquela que é respeitada” em alguma língua árabe (mas não encontrei uma confirmação disso). Inara, nome dado a Mãe d’ouro na sua forma humana, veio da música do Katinguelê a princípio ^_^ , mas gostei da possibilidade dela ser uma variação de Yara.

Como referência para a história adicionei uma referência ao cerro do Jarau (que fica em Quaraí no Rio grande do Sul, divisa com o Uruguai) que é uma formação rochosa causada pela queda de um corpo celeste há milhões de anos atrás. O lugar é rodeado de lendas, claro, sendo a “Salamanca do Jarau” a mais conhecida e que conta a história de uma princesa Moura amaldiçoada que veio fugida da Espanha.

Além de reunir alguns elementos visuais de fogo e ouro fundido, decidi que separar o Fogo Fátuo numa chama azul poderia ser bom para tentar dar uma quebrada na cor e torna-lo mais interessante.

Procurando Sacy – Poster

Quarto pôster do “Folclore BR apresenta”, Anderson Awvas resolve recriar o Saci num universo sombrio em que ele não tem nada de assustador. Ele mirou em “Procurando Nemo” (Pixar, 2003) com uma pitada de “O estranho mundo de Jack” (Skellington Productions, 1993).

Procurando Sacy

Sinopse:

“Desde bebê, o jovem Ubiratã sempre ouvia seu pai lhe contar histórias da época em que ele caçava sacis quando era criança. Ele contava que saía com seus amigos para caçar esses pequenos demônios arteiros que viviam pela floresta numa região próxima à casa de seu avô.

Munidos de potes de vidro, crucifixos e tochas, eles passavam horas buscando essas criaturas que dizia serem parecidos com negrinhos de uma perna só, usando gorros e que causavam várias confusões com redemoinhos de vento que podiam provocar magicamente. Seu pai disse que eles conseguiam aprisionar vários em suas armadilhas, mas que sempre fugiam.

Ao fazer 10 anos, Ubi ganhou um pote de vidro antigo que seu pai lhe deu dizendo que era um dos potes que teve um saci capturado. O menino impressionado guardou o pote com orgulho e foi mostrar ao avô no fim de semana seguinte em sua grande casa no interior.

Após contar várias histórias, Ubirajara, seu avô, disse: “Seu pai é um mentiroso! Não acredite em nada disso! Mas coloque uma coisa nessa cabeça, garoto: JAMAIS ENTRE NAQUELA FLORESTA SOZINHO! ”.

Na madrugada do dia seguinte, ainda na casa do avô, Ubi ouviu a janela do seu quarto bater com o vento e junto da brisa que entrava ele ouviu um chamado: “Preciso de sua ajuda! ”, em forma de um sussurro. Ao chegar na janela viu dois pontos verdes brilhantes na mata que pareciam olhos, com medo, fechou a janela e voltou para a cama se cobrindo até onde pôde.

Na madrugada seguinte o mesmo evento aconteceu, mas desta vez quando ele foi fechar a janela percebeu que os pontos brilhantes estavam no canto do quarto em uma altura um pouco mais alta que ele. Ubi congelou ao ouvir: “Tudo bem, sei que isso parece assustador, mas não pretendo machucar ninguém. Estou pedindo ajuda há algum tempo e você foi o único que conseguiu ouvir e me ver”. A criatura com uma aparência de um menino-árvore, tinha uma perna só e possuía uma folha na cabeça que lembrava um gorro. “Você é um Saci?” – Perguntou Ubi. “É como vocês costumavam a nos chamar… desculpe decepcionar, sei que estou bem longe de ser um menino” – Disse o verdadeiro Sacy.

O Sacy teve toda sua família sequestrada Jurupari, o pesadelo vivo, e precisa da ajuda de Ubi para salvá-los entrando em sua caverna assustadora que está cheia de Tamokós (criaturas misteriosas) e armadilhas invisíveis para seres como ele.

O menino decide confrontar seus medos e embarcar em uma viagem arriscada onde ele irá se desarmar de todos os seus preconceitos para ajudar o Sacy a encontrar sua família e se livrar do temível Jurupari.

Amizade, respeito e empatia serão os combustíveis para essa aventura de arrepiar! ”.

O autor nos conta que:

Novamente me baseei em um conceito que eu já tinha pensado para uma nova visão do Saci dando ao personagem característica de um elemental da floresta ou um duende que se camufla facilmente entre as árvores como o bicho-pau. Levando em conta que existem lendas que dizem que ele nasceria de tronco de bambu ou seiva de uma árvore.

A ideia principal do argumento é sobre Ubi, o personagem central, que, pensando em capturar sacis, acabaria sendo “capturado” pela simpatia de um ser que não tem nada de maligno como dizem a maior parte dos contos atribuídos a ele. Junto disso, o garoto seria confrontado por todos os seus medos e preconceitos criados em sua cabeça graças as estórias que o pai lhe contava. A essência do argumento seria passar uma lição de empatia e respeito, convocando o espectador a entender a perspectiva do outro.

Tomokó” é uma lenda dos índios Wayana-Apalay que vivem no norte do Pará.  A lenda fala um pouco de empatia e amizade entre potenciais rivais e estes seres são representados com mascaras como tradição da tribo até os dias atuais.

“Sacy” é a forma original da escrita em Tupi-Guarani que foi modificada para se enquadrar nas reformas ortográficas do português (existem dezenas de outras versões criadas a partir desta, mas não oficial da língua pt-br).

“Ubiratã” (nome do garoto) seria algo como “lança forte” e “Ubirajara” (nome do avô) significa “o senhor da lança”, ambos em Tupi-Guarani (achei interessante essa relação com a arma construída da árvore).

Fonte: http://awvas.com.br/projeto/folclore-br-uma-nova-visao/

Facebook: https://www.facebook.com/folcloreBR/?hc_ref=SEARCH

Você se encaixaria nos padrões de beleza da Grécia Antiga?

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Na Grécia Antiga, as regras de beleza eram todas muito importantes. A vida era mais fácil para homens que eram musculosos e bem cuidados. Para as mulheres, ser ruiva e “cheinha” era sinônimo de bons pretendentes ─ mas elas tinham que lidar com uma tendência sinistra, explica a historiadora britânica Bettany Hughes.

Fonte: www.bbc.com

Naquela época, um homem grego de lábios carnudos e queixos protuberantes sabia duas coisas: que sua beleza era uma dádiva (um presente dos deuses para dizer o mínimo) e que seu exterior escondia um interior ainda mais perfeito. Para os gregos, um corpo bonito era uma prova de uma mente brilhante. Eles até tinham uma palavra para isso ─ kaloskagathos ─ o que significa ser bonito de se ver e, além disso, uma boa pessoa.

Não é politicamente correto, eu sei, mas a verdade cruel é que os jovens gregos bravateavam por aí convencidos de que eles eram triplamente abençoados ─ bonitos, inteligentes e amados pelos deuses. Mas o que os tornava “tão sarados”?

Por anos, a escultura grega clássica era uma fantasia perfeita ─ um ideal impossível de ser atingido, mas hoje sabemos que um número considerável daquelas estátuas, dos séculos 5 e 3 a.C., na verdade, reproduziam a vida real ─ a pessoa era coberta com gesso e o molde era usado para fazer a obra.

Aqueles com tempo livre ficavam até oito horas na academia. Um cidadão médio de Atenas ou de Esparta teria um abdômen “rasgado” ─ com cintura fina, pênis pequeno e brilhando de óleo de suas partes íntimas até o dedão ─ magro ─ do pé.

Uma história completamente diferente, no entanto, se aplica às mulheres. Hesíodo ─ um poeta grego do século 7/8 a.C., cujos trabalhos eram vistos pelos gregos como uma espécie de Bíblia ─ descrevia as mulheres simplesmente como kalon kakon ─ “uma coisa perversa e bela”.

Segundo ele, as mulheres eram perversas porque eram belas e eram belas porque eram perversas. Ser um homem bonito era fundamental. Ser uma mulher bonita, no entanto, era sinal de problema.

E como se isso já não fosse ruim o suficiente, a beleza era frequentemente motivo de competição. Concursos de beleza ─ kallisteia ─ eram realizados regularmente nos centros de treinamento das Olimpíadas em Elis e nas ilhas de Tenedos e Lesbos, onde as mulheres eram julgadas pela maneira como andavam.

Bettany Hughes é historiadora clássica, autora de Helen of ‘Troy: Goddess, Princess, Whore1 (‘Helena de Troia: Deusa, Princesa, Prostituta’)

Homens também participavam das competições, amarrando fitas nas partes do corpo que queriam destacar, sobretudo um uma perna bem torneada ou um bíceps musculoso.O meu favorito era o concurso de Aphrodite Kallipugos ─ ou a Afrodite de belas nádegas.

A história conta que tudo começou quando se procurava um lugar para abrigar o templo da deusa (Afrodite) na Sicília. Ficou decidido que uma mulher de ampla beleza faria a escolha. Duas filhas de um fazendeiro disputaram o posto. À mais bem dotada foi dada a honra de escolher o local para ser construído o santuário de Afrodite. As mulheres de bumbum grande claramente tinham uma ligação com a deusa do amor e da beleza.

Assim, cintura larga e braços brancos, algumas vezes esbranquiçados pela aplicação de uma espécie de maquiagem na cor branca, eram características apreciadas pelos gregos. As ruivas também tinham certa vantagem. Embora consideradas bruxas no mundo medieval ─ e ainda em alguns países hoje em dia ─ elas tinham um poder pré-histórico, como mostra uma das mais sublimes obras de toda a Antiguidade.

Preservadas pela erupção de um vulcão em 1.600 a.C., as pinturas nas paredes da ilha grega de Thera (Santorini nos dias atuais), feitas na chamada Idade do Bronze, mostram um Exército de beldades. Apenas uma jovem mulher pode se aproximar da deusa ─ concluída a restauração, ficou claro que essa criatura especial se tornou única devido aos longos e espessos cabelos ruivos.

Xanthos ─ “dourado” ou fulvo ─ é um epíteto padrão usado para descrever heróis na literatura épica.

O pensamento ortodoxo nos diz que isso é apenas uma metáfora literária, mas qualquer pessoa que já tenha ficado ao lado de um amigo bronzeado ou ruivo sob o sol mediterrâneo, saberá que algo mágico acontece.

Em frente a você há um dourado inebriante. Para uma cultura que recolheu bugigangas de ouro e joias e onde um único colar podia ser feito com 16 mil peças trabalhadas individualmente, acreditava-se que a força do loiro era real.

Curiosamente, a femme fatale Helena de Tróia foi considerada assim não pela sua aparência, mas pela maneira como ela fazia os homens se sentirem e pelo poder que tinha sobre eles.

Quando começamos a conhecê-la no terceiro livro da Ilíada, de Homero, os velhos cantavam, com suas vozes subindo e descendo, como cigarras: “Ó, que beleza!”, cantavam eles. “Beleza terrível, a beleza como a de uma deusa”, diziam eles. Ou seja, o tipo de presença que leva os homens à loucura.

Helena de Troia

Ela foi uma figura da mitologia grega, filha do deus Zeus e da mortal Leda. Casada com Menelau, rei de Esparta, sua fuga com Paris desencadeou a guerra de Tróia, que durou dez anos, descrita no poema épico de Homero, Ilíada.

Se Helena representa os verdadeiros aristocratas da Idade do Bronze, sabemos que uma rainha espartana, há 3.500 anos, ostentaria olhos ferozes, tatuagens vermelhas de sóis em seu queixo e bochecha, cabelo raspado como uma adolescente e roupas para parecer uma cobra. Seus seios poderiam estar à mostra ou cobertos, como uma gaze diáfana.

A literatura em torno de Helena diz que ela tanto levou homens para sua cama quanto para a morte. Sua beleza era uma arma de destruição em massa.

No pensamento grego, tudo tinha um significado intrínseco; nada era inútil. Beleza tinha uma função: era um ativo, uma realidade independente. Não era uma característica nebulosa que só passou a existir quando foi discernida.

Beleza era uma parcela físico-psicológica que tinha muito a ver com o caráter e o divino.

O filósofo Sócrates, muito conhecidamente, se opôs às ideias de como a beleza grega deveria ser, com seu andar arrogante, olhos girantes, nariz “de batata”, costas cabeludas e barriga grande.

Passagens nos diálogos socráticos são dedicadas a uma pesquisa radical de como esse lado satírico pode, de fato, conter um caráter luminoso.

No entanto, Sócrates e seu pupilo Platão estavam travando uma batalha difícil. O grande número de espelhos encontrado em sepulturas gregas mostra que, de fato, a beleza importava em algum sentido.

Sim, a aparência importava. Os gregos antigos eram, ao meu ver, radicais quando o assunto era beleza.

Wicca: uma importante nova religião

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My altar.

Escrito por Jason Mankey, traduzido por Karina Bezerra.

Em agosto de 2017, o site “Atlântico” publicou um artigo intitulado “Por que não há novas religiões importantes“? É um artigo divertido, e cita alguns movimentos religiosos e espirituais contemporâneos, mais notoriamente Cientologia e a veneração de Santa Muerte, uma divindade/santa do povo,  popular  nos círculos católico e mágicos. O que o artigo não menciona é a Wicca, e enquanto eu não estou surpreso, admito ter ficado desapontado.

Enquanto a Wicca tem trabalhado para mostrar seu caminho para consciência pública nos últimos trinta anos, especialmente, é mais frequentemente apresentada como pouco mais do que uma curiosidade. Os artigos mais benignos prometem a bruxaria como você nunca viu antes. Enquanto os artigos escritos por cuzões simplesmente zombam dela. Se o Google News é algum indicador, a maioria dos meios de comunicação não pensa muito sobre isso.

A falta de notoriedade pública da Wicca é especialmente surpreendente quando se considera quantos Wiccanos podem existir nos Estados Unidos. A American Religious Identification Survey é a pesquisa mais citada dos adeptos religiosos e, em 2008, estimou que havia cerca de 600 mil neopagãos nos Estados Unidos, com mais ou menos a metade se identificando como Wiccanos. Uma estimativa muito mais generosa quanto ao número de Wiccanos pode ser encontrada no website Religious Tolerance, que estima que, a partir de 2015, pode haver três milhões de Wiccanos nos EUA. Se esse número estiver próximo de uma precisão, tornaria a Wicca a terceira maior tradição religiosa do país, cerca de metade do tamanho do judaísmo e o dobro do islamismo***. (Os ateus e os agnósticos são o segundo e o terceiro atrás dos cristãos, mas os dois últimos não são realmente religiões, são?) Mesmo que haja apenas dois milhões de pagãos contemporâneos nos Estados Unidos, isso significaria que provavelmente há um milhão de pessoas que se identificam como Wiccanos . Esse ainda é um número muito forte.

A ideia de que a Wicca é a terceira maior prática religiosa nos Estados Unidos é um pouco emocionante, então demore um pouco para deixá-la descer. Muito legal, hein? Mas, apesar de nossos números, ninguém parece realmente nos prestar muita atenção. Em 2016, a campanha de Trump cortejou os eleitores da Amish e apenas 250 mil Amish vivem nos EUA! Pelo menos, somos uma das quatro maiores tradições religiosas nos Estados Unidos e, com exceção de Gary Johnson, em 2012, ninguém que eu saiba cortejou nossos votos (e Johnson nem especificou os Wiccanos).

Se há entre um e três milhões de Wiccanos nos Estados Unidos, por que somos muitas vezes ignorados pelo resto da América? Acho que a resposta está em alguns lugares chave. . . . . .

A Wicca não tem fundador
Não tem autoridade centralizada
Ortodoxia versus Ortopraxia
Ninguém sabe exatamente quando começou
As pessoas têm problemas em tomar a magia como séria.

Para ler o texto completo em inglês, acesse: http://www.patheos.com/

***Uma edição anterior deste artigo afirmou que a Wicca poderia ser a segunda maior tradição religiosa nos Estados Unidos, e isso seria verdade se for utilizada uma estimativa de dois milhões quando se trata de adeptos do judaísmo. A maioria dos inquéritos coloca esse número muito maior, entre cerca de cinco a sete milhões de pessoas, ou 2% da população (sendo o menor número mais comum na maioria das pesquisas).

Eu admitirei que fui levado por uma pesquisa sugerindo dois milhões de judeus nos Estados Unidos, e que definitivamente parecia mal para mim. No entanto, o judaísmo é uma religião e uma expressão de identidade cultural. Por exemplo, 23% dos judeus nos Estados Unidos não acreditam em um poder superior, nesse caso ainda estão praticando o judaísmo? E certamente poderia ser judeu e praticar bruxaria, um deles então tem precedência sobre o outro? As questões de identidade religiosa muitas vezes são difíceis.

Templo perdido de Ártemis é encontrado na ilha grega Eubéia

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Lost temple of Artemis found on Greek island of Euboea

Crédito: Greek Ministry of Culture

Uma equipe de arqueólogos liderados pela Suíça na Grécia fizeram um achado espetacular: o templo de Ártemis, um famoso santuário ao ar livre da antiguidade. Os pesquisadores têm procurado o santuário há mais de um século. O local foi encontrado ao pé da colina de Paleoekklisies, perto da pequena cidade de pescadores, Amarynthos, na ilha grega de Eubeia. Está a cerca de 10 km do local onde pensava-se erradamente que o templo estava localizado.

Desde 2007, a busca do santuário foi liderada por Karl Reber, professor da Universidade de Lausanne e diretor da Escola Suíça de Arqueologia de Atenas. Os pesquisadores encontraram partes de uma parede maciça que remonta à era clássica, que eles acreditam pertencer a estoa ou ao pórtico construído perto do templo. As trincheiras exploratórias foram abertas em Amarynthos em 2012, e a equipe suíça trouxe à luz uma grande parte do edifício.

Agora, depois de encontrarem artefatos com inscrições, eles têm certeza de que localizaram o sítio de Artemis Amarynthia, que foi o ponto final da procissão anual de pessoas da cidade comercial, uma vez próspera, de Eretrea, a 10 km de distância. Eles mantinham um festival em homenagem a Ártemis, a deusa indomável da caça na mitologia grega. Ela foi adorada como a deusa padroeira de Amarynthos, que toma o nome de um homem de Eretrean que foi dominado por Ártemis.

A matéria foi traduzida por Karina Bezerra, e encontra-se nesse site: https://archaeologynewsnetwork  onde pode-se assistir um pequeno vídeo sobre a descoberta, com legenda em espanhol.

Lost temple of Artemis found on Greek island of Euboea

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Lançamento do livro Wicca no Brasil

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É com grande satisfação que convido a TODOS para participarem do lançamento do meu livro, na Livraria Cultura do Riomar.

Entrevista sobre Paganismo, Neopaganismo e Wicca

Paganismo é a “segunda fé mais popular” no sudoeste da Inglaterra

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A Federação Pagã afirma que o número de pagãos praticantes é significativamente maior do que os números oficiais mostram. No censo de 2011, 3.339 pessoas se identificaram como pagãs em Devon e Cornwall, tornando-se a quarta maior fé na região. Mas a Federação pagã acha que o número real de pagãos é mais próximo de 40.000, tornando-se a segunda maior fé na região. Ela disse que muitos de seus membros não declararam sua fé no censo por medo de discriminação.

Assista o vídeo produzido pela BBC sobre o assunto:

http://www.bbc.com/news/av/uk-england-devon-40948532/paganism-is-second-most-popular-faith-in-south-west-england

 


Politeísmo rígido e Politeísmo suave.

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O texto a seguir foi escrito por  Helios The Demiurge, e representa sua percepção sobre os termos: Politeísmo rígido e Politeísmo suave. A autora do site, Karina Oliveira Bezerra apenas traduziu o texto. Helios se define como um orgulhoso pagão e politeísta. A base para sua crença e religião é a reconstrução da antiguidade tardia: o helenismo medieval primitivo baseado nos ensinamentos de Juliano o Filosofo e Iamblichus, referido como “Helenismo juliano”.

O texto em inglês encontra-se no site: https://hellenicfaith.com

Há uma reivindicação abundantemente irritante em círculos politeístas que concluem essencialmente nada. A reivindicação frívola afirma que existem dois tipos de pessoas que se autodenominam “politeístas” com base em duas crenças sobre o divino:

  • Politeísmo rígido: a crença inequívoca de que existem muitas divindades distintas, separadas e reais que são independentes da humanidade; em vez de arquétipos psicológicos ou personificações de forças naturais.
  • Politeísmo suave: uma multidão de abordagens redutoras para o divino. Pode ser uma forma de arquetípismo que associe o divino com as condições / crenças humanas, ou o panteísmo funcionalmente ateísta. Na maioria das vezes, ele vem com uma suposição incorporada de agnosticismo ou mesmo ateísmo definitivo, porque o termo em si foi principalmente conjurado para os chamados “pagãos humanistas”.

Há uma razão pela qual esta terminologia de poltrona é inútil: não distingue nada.

Politeísmo rígido

O que o “politeísmo rígido” descreve é ​​simplesmente  politeísmo. É a crença de que existem inúmeros deuses distintos e reais e com agências independentes. Fim da história. Isso pode significar qualquer coisa de três a mil, todo o caminho até uma quantidade quase infinita. O que o politeísmo não é, é negociável.

Politeísmo suave

O politeísmo suave, por outro lado, é essencialmente algo que não é politeísmo. As várias idéias que o “politeísmo suave” geralmente é usado para descrever já têm nomes; nenhum dos quais é “politeísmo” porque o que está sendo descrito não é politeísta (uma crença em entidades independentemente existentes). Não existe por nenhum outro motivo, mas para reduzir os deuses em um pacote limpo, porque é inerentemente bagunçado. Ou se acredita em muitos Deuses, ou não. (por exemplo, se você acredita em representações simbólicas arquetípicas, você não acredita em deuses múltiplos. O Arquetipalismo jungiano é sobre psicologia humana e uma “inconsciência coletiva” que é sinônimo de natureza, não sobre a existência de entidades independentes com agência).

Podemos ver que o termo causa mais problemas que  bom fornecimento. Com “politeísmo suave”, você tem dois problemas importantes:

Em primeiro lugar, porque o termo é tão vago em si sem uma definição concreta, que as pessoas muitas vezes não entendem o que está sendo dito e, portanto, causam uma categorização incorreta.O termo “politeísmo suave” tem sido usado para descrever qualquer coisa de funcionalmente ateísta, arquetípico e panteísta, para coisas que são separadas, mas mais do que compatíveis com o politeísmo, como monismo e panenteísmo, e para meramente formas de politeísmo que incorporam elementos históricos de sincretismo. O termo é tão lamacento que pode colocar um pio estoicista ou platônico com uma crença plena em deuses independentes, mas que possuem uma compreensão panenteísta do divino, na mesma categoria com um  ateísta arquetipalista ou algum vago panteísta. Como tal, nas palavras de meu amigo Hrafnblod, a distinção de “politeísmo suave” fornece uma porta conveniente para os ateus seculares (por exemplo, “Pagãos Humanistas”) para adotar a fachada de uma tradição religiosa sem exigir nenhuma crença real nem esforço deles, bem como para minar, subverter e sufocar o desenvolvimento real da teologia politeísta (e praticantes politeístas), apresentando uma alternativa “mais racional”, que leva ao meu segundo ponto.

Em segundo lugar, não existe por qualquer outra razão, mas para produzir uma mentalidade “nós contra eles” e confundir a paisagem da teologia politeísta.O argumento do “politeísmo suave” pretende transmitir que o politeísmo real deve ser caracterizado como um fundamentalista “extremo” em relação a uma posição “moderada”. Como tal, tenta esclarecer a teologia politeísta, que é intrinsecamente subversiva para o ethos centrado no Monoteísmo Abraâamico e torna mais tolerável para as pessoas que consideram o politeísmo como uma forma de adoração perigosa e aberrante. O “politeísmo suave” não é meramente incompatível com o politeísmo; também é hostil e prejudicial para ele.

Conclusão

Em última análise, o principal problema com os dois termos é que eles criam uma dicotomia e o politeísmo absolutamente não tem essa característica teológica. O politeísmo é apenas “politeísmo rígido”, e existe uma linha claramente definida entre o que é o politeísmo (adoração de muitos deuses) e o que não é.

Bibliografia

Hrafnblod, Reddit post “Against the dismissal of archetypes”, Nov 18, 2017 (2:22:59 a.m. UTC), accessed November 26, 2017, https://www.reddit.com/r/pagan/comments/7dnh84/against_the_dismissal_of_archetypes/dpzksxu/

TheLettuceMan. “Baggage and Reactionary Definitions.” Of Axe and Plough. August 16, 2016. Accessed November 26, 2017. https://thelettuceman.wordpress.com/2016/08/16/baggage-and-reactionary-definitions/

“O Êxodo não existiu”, diz o arqueólogo Israel Finkelstein

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Israel Finkelstein é um homem de sorte: mesmo que seus trabalhos de arqueologia questionem a origem divina dos primeiros livros do Antigo Testamento, judeus e católicos acolhem suas hipóteses com autêntico interesse e, curiosamente, não o estigmatizam. Este “enfant terrible” da ciência revolucionou a nova arqueologia bíblica quando afirmou que a saga histórica relatada nos cinco livros que formam o Pentateuco dos cristãos e a Torá dos judeus não responde a nenhuma revelação divina. Disse que, pelo contrário, essa gestação é um brilhante produto da imaginação humana e que muitos de seus episódios nunca existiram.

O Pentateuco “é uma genial reconstrução literária e política da gênesis do povo judeu, realizada 1500 anos depois do que sempre acreditamos”, afirma Finkelstein, de 57 anos, diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv. Acrescenta que esses textos bíblicos são uma compilação iniciada durante a monarquia de Josias, rei de Judá, no século VII AEC. Naquela época, esse reino israelita do Sul começou a emergir como uma potência regional, em uma época em que Israel (reino israelita do Norte) tinha caído sob o controle do império assírio.

O objetivo principal dessa obra era criação de uma nação unificada que pudesse basear-se em uma nova religião. O projeto, que marcou o nascimento da ideia monoteísta, era formar um só povo judeu, guiado por um só Deus, governado por um só rei, com uma só capital, Jerusalém, e um só templo, o de Salomão. Em suas obras, que têm marcado as novas gerações da escola de arqueologia bíblica, Finkelstein estabelece uma coerência entre os cinco livros do Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Os séculos nos trouxeram estes episódios relatam a criação do homem, a vida do patriarca Abraão e sua família – fundadora da nação judaica – o êxodo do Egito, a instalação na terra prometida e a época dos Reis. De acordo com Finkelstein, essas histórias foram embelezadas para servir ao projeto do rei Josias de reconciliar os dois reinos israelitas (Israel e Judá) e impor-se contra os grandes impérios regionais: Assíria, Egito e Mesopotâmia. O arqueólogo recebeu LA NACION na Universidade de Tel Aviv.

La Nacion: Durante mais de vinte séculos, os homens creram que Deus tinha ditado as Escrituras a certo número de sábios, profetas e grandes sacerdotes israelitas.

Finkelstein: Assim é. Para as autoridades religiosas, judaicas e cristãs, Moisés era o autor do Pentateuco. Segundo o Deuteronômio, o profeta o escreveu pouco antes de sua morte, no monte Nebo. Os livros de Josué, dos Juízes e de Samuel eram arquivos sagrados, obtidos e conservados pelo profeta Samuel no santuário de Silo, os livros de Reis vinham da pena do profeta Jeremias. Davi era o autor dos Salmos e Salomão, o autor de Provérbios e do Cântico dos cânticos. Entretanto, desde o século XVII, os estudiosos começaram a se perguntar sobre quem tinha escrito a Bíblia. Moisés foi a primeira vítima dos avanços da investigação científica, que levantou muitas contradições. Como é possível – perguntaram os especialistas – que tenha sido o autor do Pentateuco quando o Deuteronômio, o último dos cinco livros, descreve o momento e as circunstâncias de sua própria morte?

La Nacion: Você afirma que o Pentateuco foi escrito em uma idade muito mais recente.

Finkelstein: A arqueologia moderna nos permite assegurar que o núcleo histórico do Pentateuco e da história deuteronômica foi composto durante o século VII antes de Cristo. O Pentateuco foi uma criação da monarquia tardia do reino de Judá, destinada a propagar a ideologia e as necessidades desse reino. Creio que a história deuteronômica foi compilada durante o reino de Josias, a fim de servir de fundamento ideológico às ambições políticas e reformas religiosas particulares.

La Nacion: Segundo a Bíblia, primeiro foi a viagem do patriarca Abraão, da Mesopotâmia a Canaã. O relato bíblico abunda em informações cronológicas precisas.

Finkelstein: É verdade. A Bíblia fornece uma quantidade de informações que deveria permitir saber quando viveram os patriarcas. Nesse relato, a história do começo de Israel se desenvolve em sequências bem ordenadas: os Patriarcas, o Êxodo, a travessia do deserto, a conquista de Canaã, o reino dos Juízes e o estabelecimento da monarquia. Fazendo cálculos, Abraão deveria ter partido para Canaã uns 2100 anos antes de Cristo.

La Nacion: E não é assim?

Finkelstein: Não. Em dois séculos de investigação científica, a busca pelos patriarcas nunca deu resultados positivos. A suposta migração para o Oeste de tribos provenientes da Mesopotâmia, com destino a Canaã, se revelou ilusória. A arqueologia conseguiu provar que nessa época não se produziu nenhum movimento massivo de população. O texto bíblico dá indícios que permitem precisar o momento da composição final do livro dos Patriarcas. Por exemplo, a história dos patriarcas está cheia de camelos. No entanto, a arqueologia revela que o dromedário foi domesticado somente quando acabava o segundo milênio anterior à era cristã, e que começou a ser usado como animal de carga no Oriente Médio muito tempo depois do ano 1000 AEC. A história de José diz que a caravana de camelos transportava “goma tragacanto, bálsamo e láudano”. Essa descrição corresponde ao comércio realizado pelos mercadores árabes sob o controle do império assírio nos séculos VIII e VII AEC. Outro fato anacrônico é a primeira aparição dos filisteus no relato, quando Isaque encontra Abimeleque, rei dos filisteus. Esses filisteus, grupo migratório proveniente do mar Egeu ou da Ásia Menor, se estabeleceram na planície costeira de Canaã a partir de 1200 AEC. Este e outros detalhes mostram que esses textos foram escritos entre os séculos VIII e VII AEC.

La Nacion: O heroísmo de Moisés frente à tirania do faraó, as dez pragas do Egito e o Êxodo massivo de israelitas para Canaã são alguns dos episódios mais dramáticos da Bíblia. Isso também é lenda?

Finkelstein: Segundo a Bíblia, os descendentes do patriarca Jacó permaneceram 430 anos no Egito antes de iniciar o Êxodo para a terra Prometida, guiados por Moisés, a meados do século XV AEC. Outra possibilidade é que essa viagem tenha ocorrido séculos depois. Os textos sagrados afirmam que 600.000 hebreus cruzaram o Mar Vermelho e que erraram durante 40 anos pelo deserto antes de chegarem ao monte Sinai, onde Moisés selou a aliança de seu povo com Deus. No entanto, os arquivos egípcios, que registravam todos os acontecimentos administrativos do reino faraônico, não registraram nenhum rastro de uma presença judaica durante mais de quatro séculos em seu território. Também não existiam, nessas datas, muitos locais mencionados no relato. As cidades de Pitom e Ramsés, que teriam sido construídas pelos hebreus escravos antes de partir, não existiam no século XV AEC. O Êxodo, desde o ponto de vista científico, não resiste a qualquer análise.

La Nacion: Por quê?

Finkelstein: Porque, desde o século XVI AEC, O Egito havia construído em toda a região uma série de fortes militares, perfeitamente administrados e equipados. Nada, desde o litoral oriental do Nilo até o mais distante dos povos de Canaã, escapava ao seu controle. Quase dois milhões de israelitas que tivessem fugido pelo deserto durante 40 anos deveriam ter chamado a atenção dessas tropas. No entanto, nem uma estela da época faz referência a essa gente. Tampouco existiram as grandes batalhas mencionadas nos textos sagrados. A orgulhosa Jericó, cujos muros se desmancharam com o soar das trombetas dos hebreus, não passava de um pobre casario. Tampouco existiam outros lugares célebres, como Bersheba ou Edom. Não havia nenhum rei em Edom para enfrentar os israelitas. Esses locais existiram, mas muito tempo depois do Êxodo, muito depois do surgimento do reino de Judá. Nem sequer há rastros deixados por essa gente em sua peregrinação de 40 anos. Temos sido capazes de encontrar rastros de minúsculos casarios de 40 ou 50 pessoas. A menos que essa multidão nunca tenha parado para dormir, comer ou descansar: não existe o menor indício de sua passagem pelo deserto.

La Nacion: Em resumo, os hebreus nunca conquistaram a Palestina.

Finkelstein: Nunca. Porque já estavam ali. Os primeiros israelitas eram pastores nômadas de Canaã que se instalaram nas regiões montanhosas, no século XII AEC. Ali, umas 250 comunidades muito reduzidas viveram da agricultura, isoladas umas das outras, sem administração nem organização política. Todas as escavações na região exumaram vestígios de povoados com silos para cereais, mas também de currais rudimentares. Isto nos leva a pensar que esses indivíduos haviam sido nômadas que se converteram em agricultores. Mas esta foi a terceira onda de instalação sedentária registrada na região desde 3500 AEC. Esses povoadores passavam alternativamente do sedentarismo ao nomadismo pastoril com muita facilidade.

La Nacion: Por quê?

Finkelstein: Esse tipo de flutuação era muito frequente no Oriente Médio. Os povos autóctones sempre souberam operar uma rápida transição da atividade agrícola à pastoril em função das condições políticas, econômicas ou climáticas. Neste caso, em épocas de nomadismo, esses grupos intercambiavam a carne de suas manadas por cereais com as ricas cidades cananeias do litoral. Mas quando estas eram vítimas de invasões, crises econômicas ou secas, esses pastores se viam forçados a procurar os grãos necessários para sua subsistência e se instalavam para cultivar nas colinas. Esse processo é o oposto do que relata a Bíblia: o surgimento de Israel foi o resultado, não a causa do colapso da cultura Cananeia.

La Nacion: Mas então, se esses primeiros israelitas eram também originários de Canaã, como identificá-los?

Finkelstein: Os povos dispõem de todo tipo de meios para afirmar sua etnicidade: a língua, a religião, a indumentária, os ritos funerários, os tabus alimentares. E neste caso, a cultura material não apresenta nenhum indício revelador quanto a dialetos, ritos religiosos, formas de vestir ou de enterrar os mortos. Mas há um detalhe muito interessante sobre seus costumes alimentares: nunca, em nenhum povoado israelita, foram encontrados ossos de porco. Nessa época, os primeiros israelitas eram o único povo dessa região que não comia porco.

La Nacion: Qual é a razão?

Finkelstein: Não sabemos. Talvez os proto-israelitas tenham deixado de comer porco porque seus adversários o fizessem em profusão e eles queriam ser diferentes. O monoteísmo, os relatos do Êxodo e a aliança estabelecida pelos hebreus com Deus fizeram sua aparição muito mais tarde na história, 500 anos depois. Quando os judeus atuais observam essa proibição, não fazem mais que perpetuar a prática mais antiga da cultura de seu povo verificada pela arqueologia.

La Nacion: No século X AEC, as tribos de Israel formaram uma monarquia unificada – o reino de Judá – sob a égide do rei Davi. Davi e seu filho, Salomão, serviram de modelo às monarquias do Ocidente. Tampouco eles foram o que sempre se acreditou?

Finkelstein: Nem mesmo neste caso a arqueologia tem sido capaz de encontrar provas do império que nos relata a Bíblia: nem nos arquivos egípcios nem no subsolo palestino. Davi, sucessor do primeiro rei, Saul, provavelmente existiu entre 1010 e 970 AEC. Uma única estela encontrada no santuário de Tel Dan, no norte da Palestina, menciona “a casa de Davi”. Mas nada indica que se trate do conquistador que evocam as Escrituras, capaz de derrotar Golias. É improvável que Davi tenha sido capaz de conquistas militares a mais de um dia de marcha de Judá. A Jerusalém de então, escolhida pelo soberano como sua capital, era um pequeno povoado, rodeado de aldeias pouco habitadas. Onde o mais carismático dos reis, teria conseguido recrutar soldados e reunir o armamento necessário para conquistar e conservar um império que se estendia desde o Mar Vermelho, ao Sul, até a Síria, ao Norte? Salomão, construtor do Templo e do palácio de Samaria, provavelmente tampouco tenha sido o personagem glorioso que nos legou a Bíblia.

La Nacion: E de onde saíram seus fabulosos estábulos para 400.000 cavalos, cujos vestígios se encontraram?

Finkelstein: Foram fazendas instaladas no sul do reino de Israel várias décadas mais tarde. Com a morte de Salomão ao redor de 933 AEC, as tribos do norte da Palestina se separaram do reino unificado de Judá e constituíram o reino de Israel. Um reino que, contrariamente ao que afirma a Bíblia, se desenvolveu rápido, econômica e politicamente. Os textos sagrados nos descrevem as tribos do Norte como bandos de fracassados e pusilânimes, inclinados ao pecado e à idolatria. No entanto, a arqueologia nos dá boas razões para crer que, das duas entidades existentes, a meridional (Judá) foi sempre mais pobre, menos povoada, mais rústica e menos influente. Até o dia em que alcançou uma prosperidade espetacular. Isto se produziu depois da queda do reino de Israel, ocupado pelo poderoso império assírio, que não só deportou os israelitas para a Babilônia, como também instalou sua própria gente nessas férteis terras.

La Nacion: Foi, então, durante o reino de Josias em Judá quando surgiu a ideia desse texto que se transformaria em fundamento de nossa civilização ocidental e origem do monoteísmo?

Finkelstein: Até o final do século VII AEC havia em Judá uma efervescência espiritual sem precedentes e uma intensa agitação política. Uma coalizão heterogênea de funcionários da corte seria a responsável pela confecção de uma saga épica composta por uma coleção de relatos históricos, memórias, lendas, contos populares, histórias, profecias e poemas antigos. Essa obra mestra da literatura – metade composição original, metade adaptação de versões anteriores – passou por ajustes e melhoras antes de servir de fundamento espiritual aos descendentes do povo de Judá e a inumeráveis comunidades em todo o mundo.

La Nacion: O núcleo do Pentateuco foi concebido, então, quinze séculos depois do que acreditávamos. Só por razões políticas? Com o fim de unificar os dois reinos israelitas?

Finkelstein: O objetivo foi religioso. Os dirigentes de Jerusalém lançaram um anátema contra a mínima expressão de veneração de divindades estrangeiras, acusadas de ser a origem dos infortúnios que padecia o povo judeu. Colocaram em marcha uma campanha de purificação religiosa, ordenando a destruição dos santuários locais. A partir desse momento, o templo que dominava Jerusalém devia ser reconhecido como único local de culto legítimo pelo conjunto do povo de Israel. O monoteísmo moderno nasceu dessa inovação.

Fonte: La Nacion

Fonte: http://deusesehomens.com.br

Símbolos das religiões do Paganismo contemporâneo

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01 – Rodnovery, Neopaganismo Eslavo (“Mãos de  Deus”)

02 – Neopaganismo Celta (Espiral tripa ou triskele)

03 – Neopaganismo germânico (“Martelo de Thor”)

04 – Dievturi, Neopaganismo letão

05 – Helenismo, Neopaganismo grego

06 - Hetanismo, Neopaganismo armênio (“Arevakhach”)

07 -  Neopaganismo ítalo-romano

08 – Kemetismo, Neopaganismo egípcio (“ankh”, chave da vida, cruz ansata)

09 – Wicca, bruxaria Neopagã (pentagrama or pentáculo)

10 – Neopaganismo Finlandes(“Tursaansydän” coração da morsa)

11 – Neopaganismo húngaro (cruz dupla ou “világfa”, árvore do mundo)

12 – Romuva, Neopaganismo Lituano

13 – Neopaganismo estoniano (“Jumiõis”, Flor centáurea-azul)

14 – Habzismo, Neopaganismo Circassiano/Adyghe (“Cruz de martelo” representa o deus Tha)

15 – Neopaganismo semítico (“hamsa”)

16 – Movimento da Deusa e Wicca (Figura feminina levantando os braços)

Ele que o Abismo Viu. Epopeia de Gilgámesh por Jacyntho Lins Brandão

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Jacyntho_entrevista_fev18

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Reproduzimos aqui, a entrevista de Jacyntho Lins Brandão, sobre seu livro “Ele que o Abismo Viu. Epopeia de Gilgámesh” do site www.suplementopernambuco.com.br 

A Epopeia de Gilgámesh é o poema épico mais antigo conhecido da história e suas versões remontam ao terceiro milênio antes de Cristo, na cultura oriental antiga; dentre elas, a mais completa e clássica é do séc. XIII-XII a.C, escrita em acádio e atribuída a Sin-léqi-unnínni: Ele que o abismo viu. Esse texto pertence a uma tradição de escrita-performance-reescrita, que atravessou mais de mil anos, recontando feitos de Gilgámesh. Até pouco tempo as variantes disponíveis, em línguas diversas, estavam bastante incompletas; porém agora a versão de Sin-léqi-unnínni está quase integral, e foi a partir dela que Jacyntho Lins Brandão fez a primeira tradução completa direto do original para o português, com um aparato impressionante de notas, que apresentam ao leitor não só o universo da obra, mas o mundo oriental antigo que produziu inúmeras peças que sobrevivem e também merecem traduções comentadas.

Jacyntho Lins Brandão é um dos helenistas mais respeitados no Brasil, professor de grego na UFMG desde 1977, sócio fundador da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC), autor de livros fundamentais, como Luciano de Samósata: biografia literária (2015), Em nome da (in)diferença (2014), Antiga musa (2005), Helleniká: introdução ao grego antigo (2005, com Maria Olívia Q. Saraiva e Celina F. Lage), dentre outros. A tradução de Ele que o abismo viu saiu em 2017 pela editora Autêntica. Além da sorte de revisar o texto e as notas, tive o prazer de fazer esta entrevista por e-mail.

Como foi sua aproximação com a língua acádia e com a Epopeia de Gilgámesh

Eu tomei contato mais de perto com a produção mesopotâmica, especificamente a escrita em acádio, em 1985, quando esteve na USP o assiriólogo francês Jean Bottéro, convidado por Haiganuch Sarian, professora de arqueologia grega, para dar um curso breve, de um mês (era a época em que eu estava fazendo o doutorado). Ele apresentou, com base nas traduções que vinha fazendo para o francês, o chamado “poema da criação” (Enuma elish), uma cosmogonia, e o “poema do super-sábio” (Atrahasis), uma antropogonia. As traduções foram publicadas depois, junto com outros textos, no volume Quand les dieux faisaient l’homme. A partir disso comecei a ler outras obras, sempre em tradução, incluindo a chamada Epopeia de Gilgámesh. Quem entra em contato com este poema logo percebe que se trata de algo extraordinário, pelo que tem, antes de tudo, de beleza, mas igualmente por tratar de temas fundamentais da condição humana: sexualidade, mortalidade, urbanidade, heroísmo, amizade e amor.

A produção suméria e acádia sobre Gilgámesh tem várias etapas: os primeiros poemas, em sumério, devem ser de por volta do século 22 a.C., ou seja, da época neossuméria (cinco poemas isolados sobre várias passagens da saga do herói), sendo do século 20 a.C., no período babilônico antigo, a primeira versão do que se poderia considerar a Epopeia de Gilgámesh (cujo nome é Shutur eli sharri, “Proeminente entre os reis” – na tradição semítica, o título das obras é constituído por suas primeiras palavras). Mas a versão clássica do poema, que tem o título de Sha naqba imuru (“Ele que o abismo viu”), data do século 13/12 a. C., sendo que dela conhecemos o nome do autor, o sábio Sin-léqi-unnínni. Essa é a versão que podemos chamar de “clássica”, porque se tornou, até o fim da Antiguidade, a vulgata encontrada em diversos locais. Ela utiliza a tradição anterior, mas expande o poema, dando-lhe uma dimensão sapiencial: Gilgámesh, de simples herói, aparece nela também como um sábio.

Muito bem, em 2003, pela Editora da Universidade de Oxford, saiu uma nova edição crítica, em acádio, do poema de Sin-léqi-unnínni, edição feita pelo assiriólogo inglês Andrew George. A anterior era da década de 1930 e contava com um número menor de manuscritos, o texto era mais fragmentado, os editores e tradutores completando o que faltava com partes da versão paleobabilônica (“Proeminente entre os reis”) e mesmo da tradução para o hitita. Na edição de 2003, Andrew George trabalhou com um número muito maior de manuscritos, ou seja, todos conhecidos até então.

Foi essa a versão do poema que eu quis traduzir, a que se chama Ele que o abismo viu, na qual não incorporei partes de outras versões, porque isso implicaria em produzir uma espécie de “frankenstein” que não existiu em época nenhuma. São duas balizas importantes, portanto, que orientam meu trabalho: ele tem em vista o poema de Sin-léqi-unnínni, na edição crítica de Andrew George. Enquanto eu estava fazendo o trabalho, houve dois acontecimentos importantes: em 2007, Daniel Arnaud, um assiriólogo francês, publicou novas tabuinhas, escavadas por ele em Ugarit (no litoral da Síria), contendo partes do poema, mas principalmente seu início, o que fez com que se pudessem completar lacunas na edição de George, ou seja, hoje temos a sorte de conhecer o proêmio de Ele que o abismo viu de modo completo; e em 2014 houve outro acontecimento, quando se publicaram partes da tabuinha 5, principalmente seu início, de que tínhamos um conhecimento muito fragmentado (essa tabuinha estava num lote de antiguidades que, depois a Guerra do Iraque, foi oferecido ao Museu de Suleimaniyah, no mesmo Iraque, pedindo o vendedor o preço de 700 dólares!). Nos dois casos, voltei – e voltei alegre, é claro – a partes da tradução que já estavam prontas, para completá-la. Isso mostra bem como nosso conhecimento do texto se amplia – o próprio Andrew George tendo expressado, num de seus artigos, a esperança de que um dia possamos tê-lo completo (o cálculo é que nos falta ainda em torno de um terço dos versos).

Foram então todas essas novidades – a nova edição de 2003 e as descobertas publicadas em 2007 e 2014 – que me motivaram a fazer a tradução. Isso envolveu, em primeiro lugar, estudar o acádio (eu sou professor de grego antigo). Para isso, ajudou eu ter estudado hebraico nos anos 1980. Como o acádio é também uma língua semítica, não me ofereceu dificuldades instransponíveis.

Passei por algo similar com a tradução de Safo, para a qual incorporei os fragmentos recentes das últimas décadas, que ainda não tinham entrado em nenhuma edição crítica completa. Parece-me impressionante essa abertura material que a literatura antiga tem, com a possibilidade de publicação de poemas, trechos, obras novas, mesmo com milênios de atraso. O que você acha disso?

Isso é consequência de que o que conservamos da literatura antiga é só uma espécie de arca de Noé, ou seja, uma quantidade pequena de uma produção muito vasta. Assim, há sempre espaço para descobertas, desde as volumosas, como os papiros de Oxirinco, os manuscritos do Mar Morto, os papiros de Herculano, até as mais modestas, mais nem por isso menos importantes, como o papiro de Derveni e os poucos versos de Safo conservados em cartonagem de múmia, descobertos em 2005. Todos esses exemplos são de textos produzidos na própria Antiguidade e conservados por algum acaso, especialmente em lugares em que não chove, como no caso da Palestina e do Egito. Mas há também as descobertas de cópias mais recentes, conservadas em bibliotecas, como os mimos de Herondas e o romance de Cáriton de Afrodísias, Quéreas e Calírroe. O que eu penso que esses acontecimentos têm de mais importante é alertar-nos, não nos deixar esquecer o quanto a tecnologia da escrita é importante em sua materialidade. As tabuinhas de argila da Mesopotâmia revelaram-se mais duráveis, mais resistentes que o papiro e pergaminho em que gregos e romanos escreviam, de tal modo que não temos nada anterior ao século IV a. C., de que data o papiro de Derveni. Já com relação aos sumérios, temos acesso a textos escritos no início do terceiro milênio. Essa é uma reflexão sobre o passado, mas que nos projeta para o futuro: quais as condições para a conservação do que se produz hoje por escrito? Falando de escrita esquecemos em geral que ela não é algo que paira no ar, mas exige um suporte, no nosso caso de hoje o suporte digital, que esperamos seja resistente.

Você pode contar um pouco sobre as especificidades deste desafio tradutório?

Traduzir qualquer texto não é só uma questão de conhecer a língua em que ele se encontra escrito, embora esse seja o ponto de partida indispensável, é claro! Mas um texto traz uma cultura e, no caso de Ele que o abismo viu, uma cultura distante de nós em dois sentidos: em primeiro lugar, por ser um poema oriental, ou seja, desse espaço do globo que nós, ocidentais, costumamos considerar como o lugar da diferença e da barbárie; por outro lado, trata-se de um poema antigo, mais de meio milênio anterior a tudo de mais antigo que recebemos dos gregos e dos hebreus, os quais costumamos considerar o início de nossa cultura “ocidental e cristã”, então, também distante de nós, na medida em que temos a tendência de pensar que tudo que é antigo é primitivo e ultrapassado. Podemos dizer que o impacto que o poema tem no leitor contemporâneo decorre de ele balançar as certezas que nos são transmitidas pelo senso comum sobre nosso espaço e tempo e que são constitutivas da nossa visão de mundo.

Sendo um texto assim, meu primeiro cuidado foi não domesticar o poema. Ele se oferece ao leitor, na tradução, sem facilitações. Isso inclui deixá-lo fragmentado onde é fragmentado, por exemplo. É bom lembrar que, mesmo na Antiguidade, os escribas que o transmitiam lidavam com passagens em que o texto se encontrava quebrado – literalmente com partes em que as tabuinhas de argila estavam quebradas. Tanto que o copista, nestes casos, anotava: “ texto quebrado” ou “quebrado de novo”. Nós usamos essas palavras, escritas em cuneiforme (“heppi” e “heppi eshshu”) para marcar, na tradução, onde há grandes lacunas. Lidar com esses problemas é parte do acesso que temos à literatura antiga, ou seja, os próprios limites do nosso acesso, em vista da preservação das fontes. É, por exemplo, algo equivalente ao que temos da Vênus de Milo: faltar os braços faz parte dela hoje em dia e querer acrescentar os braços ao que temos ficaria extremamente artificial. Com os textos acontece a mesma coisa.

Outro cuidado que eu tive foi não trazer para o texto ideias alienígenas. Vou dar um exemplo: uma expressão temporal que aparece mais de uma vez é “ana dur dar”, em que “duru” significa “para sempre” e “daru” tem o sentido de “eternidade”. Então, a expressão teria o sentido literal de algo como “pela eternidade de para sempre”, e Gilgámesh se pergunta mais de uma vez, diante da morte de seu amigo Enkídu: “E eu, como ele, não deitarei/ E não mais levantarei ana dur dar?” Em inglês, George traduz por “for all eternity”, o que é correto quanto ao sentido, mas perde a aliteração que existe em “ana dur dar”. Joaquín Sanmartín, que tem uma tradução muito boa para o espanhol, traduziu como “pelos séculos dos séculos”, que expressa o que há de iterativo em “ana dur dar”, mas traz para o texto um contexto estranho, pois para quem ouve “pelos séculos dos séculos” só falta acrescentar “amém”! Eu optei por uma solução simples e neutra: “de era em era”. Então, o verso ficou assim: “E não mais levantarei de era em era?” Isso mantém a iteração e aliteração, não traz contextos estranhos para o texto e condiz mais com a marcação temporal praticada pelos mesopotâmios, que não contavam séculos, mas tinham uma consciência muito forte de que o tempo se organizava em eras, a principal dessas marcações sendo a era antediluviana e a era pós-diluviana.

Você usou a metáfora da Vênus de Milo para os fragmentos textuais, recentemente utilizada por Giuliana Ragusa em Lira grega [Hedra] e por mim mesmo em Safo: fragmentos completos [Editora 34]. Gostaria de fazer duas perguntas mais específicas: você não acha que vivemos, como herdeiros do modernismo, uma estética do fragmento que nos permite olhar/ler as ruínas do passado em sua beleza de ruína, numa especificidade histórica? E será que poderíamos pensar em estéticas do fragmento? Digo isso porque creio que eu, você e Ragusa editamos e traduzimos a fragmentariedade de modo diverso, projetamos o fragmento como leitura de modo muito diferente.

Da minha parte, costumo dizer que tenho vocação para arqueólogo, porque gosto justamente de fragmentos, aquela beleza das ruínas que dão o tom dos sítios arqueológicos. Isso constitui, sim, uma estética específica, nem sempre inteiramente compreensível ou acessível. Ouvi uma vez de uma pessoa que havia feito uma viagem à Grécia o comentário jocoso de que nunca tinha visto um povo tão desmazelado, já que não tinha sobrado, da Antiguidade, nada inteiro. Já eu gosto da ruína pelo que ela tem de temporalidade, quer dizer, pelas marcas do tempo que ela carrega e testemunha.

No caso dos fragmentos literários, acho que esse também, num certo sentido, é o charme. No fragmento conservado em argila ou papiro, as marcas do tempo testemunham os acidentes materiais, versos pela metade, palavras soltas etc. Já os fragmentos conservados em citações, que costumam ser a maioria para os autores gregos e latinos, os chamados filósofos pré-socráticos, por exemplo, acrescenta-se à questão tudo que cerca a citação, a estética da citação, que se perde quando se tira o fragmento do contexto em que é citado. Ficam então duas opções: apresentar e interpretar o fragmento tendo em vista o contexto donde foi colhido, ou abstrair do contexto, apresentando-o e interpretando-o em conexão da coleção dos outros fragmentos do autor. São duas opções válidas e justificáveis, que produzem efeitos bastante diferentes, sem dúvida.

O que torna diferente o caso mesopotâmico da Antiguidade grega e latina diz respeito, como já salientei, ao suporte. O fato de que o texto se inscreva em material mais resistente que papiro e pergaminho um acesso menos mediatizado a seus diferentes estados, o fragmentário que ele apresenta tendo essa dimensão brutamente material. O fato de que o escriba assírio anote que o texto de que copia já está quebrado deve servir para lembrar-nos que o escriba grego ou latino deveria enfrentar muitas vezes também todo tipo de quebra, os estados dos textos que nos transmitem ficando devedores dessas vicissitudes.

Como você imagina o impacto de uma tradução de Ele que o abismo viu para a poesia e a narratividade no presente, no Brasil?

É difícil imaginar isso, a publicação sendo tão recente. Eu tive sempre a perspectiva de que este meu trabalho fosse minha principal contribuição para a cultura brasileira, ou seja, não imaginei que o estivesse fazendo na estratosfera, mas aqui e agora e para aqui e agora. Por isso, não se tratou simplesmente de traduzir com fidelidade o texto, mas de compreender e usar os princípios que conhecemos da poesia acádia: as unidades de ritmo, o agrupamento dos versos, os recursos paralelísticos, dentre outros. Por outro lado, resisti à tentação da transcriação, optando por uma tradução que eu concebo, se é preciso dar um nome, como mimética. Meu critério é o texto e, mesmo sabendo que ao traduzir algo sempre se perde dos efeitos, eu quis ficar perto do texto.

Vou dar um exemplo que ilustra isso, que tem relação com transpor para o português parte do efeito do verso acádio. Há um marcador temporal, que aparece em vários pontos do poema, sobretudo na narrativa do dilúvio, que em acádio é “mimmû sheri ina namari”, a referência sendo aos primeiros sinais do raiar do dia. As várias traduções disponíveis vertem o verso por “al primer brillo del alba” (Joaquín Sanmartín), “at the very first light of dawn” (Andrew George), “ao primeiro raiar da aurora” (Ordep Serra) etc. Ora, se o sentido sendo claro, a expressão idiomática é sofisticada e altamente poética: “mimmû” significa “tudo”, “algo”, “nada” e a expressão “mimmû sheri” deve ser entendida como “nada da manhã” ou então como “algo da manhã”, para marcar o primeiríssimo momento da aurora (“sheru” significa “manhã”, “aurora”); o verbo “namaru” tem o sentido de “brilhar”, “amanhecer”, e a expressão “ina namari”, enquanto uma construção impessoal, significa “ao amanhecer”. Fica claro que o verso tem duas unidades rítmicas, ou seja, “mimmû sheri / ina namari”, tendo eu procurado transpor na minha tradução dois aspectos: do ponto de vista lexical e semântico, valorizar as conotações da expressão original; em termos sintáticos, não fazer dela uma construção simples, mantendo seu ritmo: “nem bem manhã, / já alvorece”. Essa preocupação geral com a forma, que, afinal, é o que faz o texto ser poético, mantive em toda a tradução. Saber se minha intenção se realizou de fato caberá aos leitores.

Voltando ao que você me pergunta, considero que as traduções fazem também parte do patrimônio literário de uma língua, no nosso caso o português do Brasil, ou seja, nosso aqui e agora. Espero que minha tradução possa cumprir esse papel, incluindo-se numa tradição poética tão rica quanto a nossa.

Parece mesmo que está cumprindo seu papel, pois ouvi dizer que a primeira tiragem já se esgotou em pouquíssimo tempo. Isso parece indicar que, ao contrário do que tanto se prega em diversos círculos acadêmicos e editoriais, há realmente um grupo significativo de pessoas interessadas pela leitura da antiguidade, seja ela ocidental ou oriental. Você não pensa que esse sucesso imediato pode, para além da própria divulgação da obra e da cultura acádia, também ser um marco para revermos a posição da Antiguidade como um ponto de vitalidade e alteridade fundamentais para o pensamento contemporâneo?

A circulação que o livro está tendo acho que surpreendeu todo mundo, a começar pela editora. Hoje recebi a notícia, da parte deles, os editores, de que o livro já foi convertido para e-book e estará disponível, nesse formato, nas próximas semanas [a obra já está disponível em formato digital no site da editora]. E por aí vai.

Sim, é claro que há hoje um interesse maior pela Antiguidade que há 30 anos atrás, pelo menos em termos do número de pessoas interessadas. Isso tem relação, eu penso, com a ampliação do acesso à cultura. Sempre pensei que a gente desgosta do que desconhece e que conhecimento só pode produzir gosto, já que o mundo é algo de muito atrativo. Assim, garantir acesso ao conhecimento ou à cultura é uma questão básica, de educação e políticas públicas, o que não acontece infelizmente no Brasil, em que a disparidade com relação a isso, condições de poder usufruir de produção cultural, é tão ou mais escandalosa que a econômica.

Eu sempre comentei com meus alunos que estudar a Antiguidade é basicamente esse entrar em contato com o outro, cuja consequência deve ser a perda da mesmice do que nos é próprio. Nós costumamos pensar a alteridade em termos espaciais, os outros sendo os diferentes de nós, mas que se encontram, como nós, aqui e agora, esquecendo-nos de que os antigos, incluindo os nossos antigos, também são outros com relação a nós. No caso dos nossos antigos a relação fica mais complicada, pois temos muito deles, nossa visão de mundo se expande até eles, ao mesmo tempo que eles guardam, diante de nós, inúmeras diferenças. Gosto de pensar que, menos que eles serem nosso passado, o sentido deles está em que nós somos o seu futuro.

Você pode nos contar um pouco sobre os seus projetos atuais?

Eu gostaria de traduzir outros textos acádios, pois constituem um corpus muito extenso e com peças tão impressionantes quanto Ele que o abismo viu. Tenho pronta uma tradução do poema chamado modernamente Descida de Ishtar ao mundo dos mortos, um texto breve, com menos de 200 versos, para o qual tenho de agora escrever os comentários. Como no caso do Gilgámesh, acho que traduções comentadas são muito úteis para o leitor, pois podemos fazer as opções que parecem as melhores na tradução, informando sobre outras possibilidades. Comentário não é nota de pé-de-página, mas a consideração do texto como poesia e sua exploração nesse sentido. Por isso é que, no caso de Ele que o abismo viu, para cada página do poema há cerca de duas de comentários.

Outra coisa que pretendo explorar são as relações entre as tradições médio-orientais e as gregas, algo sobre o que muito se escreveu no século XX, traçando-se paralelos. Queria avançar além dos simples paralelos, pensando isso da perspectiva do compartilhamento dos “lugares comuns” que fazem do Mediterrâneo oriental uma zona de convergência cultural. Isso quer dizer que não penso a questão em termos da influência do Oriente Médio na Grécia, mas do compartilhamento de lugares comuns, entendendo que o lugar comum é aquilo que permite a comunicação e a existência de comunidades culturais. Estou atualmente explorando isso com relação às ideias sobre os mortos e seu mundo. É um projeto que demanda tempo, pois exige lidar com um número grande de dados, organizá-los e interpretá-los. Mas é algo fascinante. No caso dos mortos, seguir como se cria a concepção de que a existência humana não termina na morte, mas supõe dois estados, o de vivo, com princípio e fim, e o de morto, com princípio mas sem fim. Como esse é o nosso lugar comum, não temos consciência de que foi criado num certo momento, por uma certa cultura, não sendo essa ideia própria de todas as culturas (há as que consideram que a existência humana termina com a morte e as que pensam que ela se repete em ciclos de nascimento-morte-nascimento, por exemplo). Mas a concepção de uma existência com dois estados, como descrevi, já está nos textos sumérios, registrando-se nos acádios e em outros médio-orientais (com exceção dos hebreus, que não descrevem algum tipo de existência após a morte, pelo menos nos registros mais antigos), como está também em Homero.

Acontece que os sumérios são um povo que já se sobrepõe a pelo menos outro povo que falava uma língua diferente, convencionalmente chamada de prototigrídio. Então, quando regredimos no tempo, topamos sempre com povos que já são mestiços, sendo de um deles, dos sumérios, que temos o registro mais antigo dessa concepção sobre a morte e os mortos. Isso é o que há de fascinante nessa espécie de arqueologia do imaginário. Constatar como as culturas se relacionam, como ocorrem as miscigenações de todo tipo, criando-se os lugares comuns que ainda hoje compartilhamos.

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A arte da magia, uma entrevista com Alan Moore

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Alan-Moore_A-arte-da-magia_Entrevista-para-a-revista-Pagan-Dawn_traducao-portugues

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Entrevista de Alan Moore para a revista Pagan Dawn, originalmente em inglês, com tradução de Rafael Arrais, do site http:textosparareflexao.blogspot.com

A lenda dos quadrinhos, Alan Moore, é o autor de diversos títulos memoráveis, tais quais Watchmen, A Liga Extraordinária, V de Vingança e Do Inferno. Ele também é um praticante de magia cerimonial e cofundador do Moon and Serpent Grand Egyptian Theatre of Marvels [O Grande Teatro Egípcio de Maravilhas da Lua e da Serpente]. Alan vê uma conexão íntima entre a magia e a criatividade artística, o que foi explorado na sua série Promethea. Sam Proctor resolveu lhe perguntar mais sobre este assunto…

Sam: Você disse que o seu interesse pela magia foi despertado enquanto pesquisava sobre a história da Maçonaria para compor Do Inferno, e que você anunciou publicamente a sua intenção de se tornar um mago em seu aniversário de 40 anos. Diga-nos mais sobre o que o levou a dar uma guinada tão radical em sua vida.

Alan: Como era de ser esperado, inúmeros fatores entraram na equação para tal decisão. Um deles, que por acaso não teve nenhuma relação com a minha pesquisa sobre a Maçonaria, foi uma linha de diálogo que eu já havia dado ao personagem principal de Do Inferno, afirmando que o lugar em que os deuses indubitavelmente existiam era a mente humana, onde eles eram reais em toda a sua “grandeza e monstruosidade”.

Uma reflexão mais aprofundada das implicações desta linha de diálogo que surgiu casualmente na obra me deixou com aparentemente nenhuma forma de refutar tal afirmação, e assim fui obrigado a reajustar toda a minha racionalidade, que anteriormente vivia num ponto de vista muito estreito.

O território até então virgem e inexplorado da magia me pareceu ser a única área do conhecimento humano que poderia me oferecer alguma forma de tentar resolver tais ideias tão novas e intrigantes. Me autodeclarar um mago, com todo o risco de cair em ridículo e perder minha reputação, me pareceu um primeiro passo necessário para ingressar nesta nova identidade de visão radicalmente estendida, e até hoje mantenho a mesma opinião.

É claro que a coragem para dar este salto potencialmente desastroso nas trevas do intelecto foi grandemente facilitado pelo fato de eu estar num pub celebrando o meu aniversário, apreciando um bom jazz, e consideravelmente bêbado.

Sam: Você acredita que a magia pode nos oferecer uma forma de ver, compreender e nos relacionar com o mundo e com nós mesmos que a ciência e a psicologia não podem?

Alan: Em nosso livro por ser publicado, Moon & Serpent Bumper Book of Magic [autoria de Alan Moore e Steve Moore; eles não são parentes], nós consideramos que a consciência (interior), precedida pela linguagem, precedida pela representação (e a arte), eram todos fenômenos que surgiram mais ou menos no mesmo momento da história humana, e todos eles poderiam ser então percebidos como magia, um termo abrangente que abraçava todos os novos conceitos radicais nascidos do descobrimento do nosso mundo interior.

Isso nos permite dar uma definição para a magia como “um noivado com a consciência, uma busca dos significados dos seus fenômenos e possibilidades” [1]. Nós então prosseguimos para arguir que, originalmente, toda a cultura e todo pensamento humano se encontravam submergidos na visão mágica do mundo, e que com o advento das sociedades urbanas e a ascensão das profissões especializadas a magia foi lentamente dissociada das suas funções sociais.

Primeiramente as religiões organizadas a demoveram de sua profundidade espiritual, e então um crescente surgimento de autores, artesãos e artistas a demoveram de seu papel como fonte principal de visão imaginativa. Logo após, vizires e ministros tomaram o papel do xamã como principal conselheiro político da comunidade. Tudo isso deixou a magia com suas funções restantes, embora ainda vitais e frutíferas, de pesquisa alquímica, cura e investigação do mundo interior, até que a Renascença e o advento da Era da Razão delegaram os dois primeiros para os campos emergentes da ciência e da medicina, e finalmente, em torno de 1910, o terceiro foi capturado pela “nova ciência” de Freud e Jung, a psiquiatria.

Nós sugerimos que a totalidade da cultura na qual hoje residimos é nada menos que o cadáver desmembrado da magia (apesar dele ainda ter, de alguma forma, uma aparente capacidade de se comunicar), e que esse processo indubitavelmente necessário é exemplificado pelo princípio alquímico do solve, ou decomposição.

Nossa tese é a de que hoje se faz necessário o processo complementar de coagula, ou síntese, de forma a completarmos tal fórmula tão essencial. Para este fim, nós propomos que a arte e a magia devem ser intimamente reconectadas para o enorme benefício de ambas, conforme já foi dito em meu ensaio Fossil Angels, e o próximo passo deveria ser aprimorarmos o elo já existente entre as artes e as ciências, incluindo a psiquiatria, que eu já chamei um dia, sem nenhuma intenção de desrespeito, de “ocultismo num jaleco”.

O passo final, mais importante e problemático, seria o de nutrir a conexão entre a ciência e a política, assegurando que as decisões políticas sejam feitas sob a luz do atual conhecimento científico, se valendo de todos os avanços científicos conquistados em, por exemplo, resoluções de conflitos armados, para o aprimoramento da humanidade como um todo.

Para finalmente responder a sua questão, um dos muitos benefícios que a magia oferece é uma visão de mundo plausível e, acredito eu, racional, onde tanto a ciência quanto a psicologia e todos os demais campos já mencionados podem coexistir conectados novamente a antiga ciência da existência, plena de significado, da qual eles um dia emergiram (Paracelso, praticamente o pai de quase todos os procedimentos modernos da medicina, também foi o primeiro a usar o termo “inconsciente”, aproximadamente 400 anos antes da sua subsequente apropriação pela psicologia).

Com a magia, ao menos como nós a definimos, a principal vantagem em termos de relacionamento com o mundo é que ela nos oferece um ponto de vista coerente e sensivelmente integrado para nos relacionarmos com tudo a nossa volta. Da mesma forma, ao contrário de todos os campos e empreendimentos já mencionados, exceto a criatividade artística, a magia é inteiramente centrada nos princípios do êxtase e da transformação, coisas que cremos ser o alicerce das experiências humanas, e que se encontram totalmente deficientes na sociedade contemporânea.

Sam: Você disse um dia que ouviu falar que Einstein mantinha uma cópia de A Doutrina Secreta, de H. P. Blavatsky, aberta em sua escrivaninha. Ele trabalhou de forma bastante imaginativa e já afirmou que alcançou suas teorias primeiramente através da visualização (mental). Por acaso há uma barreira entre a ciência material e a oculta que precisa cair para o benefício da corrente principal da ciência [mainstream science]?

Alan: Einstein nós dá um bom exemplo. Ele afirmava que recebeu a inspiração para o seu trabalho com a relatividade durante uma espécie de sonho lúcido [daydream] onde ele imaginou a si mesmo correndo lado a lado com um faixo de luz. James Watson, que descobriu a molécula do DNA juntamente com Francis Crick, dizia que deduziu a sua estrutura através da lembrança de um sonho com escadas espiraladas.

Sir Isaac Newton foi um alquimista que incluiu o índigo no espectro de cores em acordo com a simpatia alquímica pelo número sete.

Nós poderíamos dizer que quando a ciência e a magia foram primeiramente separadas, cada uma delas perdeu algo vital: a ciência abandonou a sua capacidade de se relatar com qualquer espécie de mundo interior, enquanto a magia de certa forma pareceu haver perdido muito da sua capacidade de discriminação e análise intelectual. Conforme já foi dito, a reintegração dessas áreas divorciadas da cultura humana poderia ser, eu intuo, um imenso ganho para todas as partes envolvidas.

***

[1] Este trecho traz diversas possibilidades de tradução, e eu optei provavelmente pela mais poética e arriscada. No original, “magic as a purposeful engagement with the phenomena and possibilities of consciousness”, temos o termo “engagement” que pode significar “compromisso”, “engajamento”, “noivado”, e até mesmo “batalha”. Portanto, uma tradução mais sóbria desta definição tão essencial para a compreensão do pensamento de Moore seria algo como “magia como um engajamento intencional com o fenômeno e as possibilidades da consciência”.

Sam: Você vê um elo íntimo entre a magia, a imaginação e a criatividade, uma ideia que foi desenvolvida em Promethea. Conte-nos mais sobre essa conexão.

Alan: Como já foi dito, a minha posição é a de que a arte, a linguagem, a consciência e a magia são todos aspectos do mesmo fenômeno. Com a arte e a magia vistas como quase totalmente intercomunicáveis e conectadas, o reino da imaginação se torna crucial para ambas as práticas.

O reino cabalístico lunar da imaginação é chamado Yesod, que é um termo hebraico que significa “Fundação”. Isso sugere que a imaginação é a única fundação sobre a qual nossas funções mentais elevadas estão edificadas e, da mesma forma, por onde podem ser acessadas. A magia, segundo a nossa formulação, parece estar intimamente envolvida com a criatividade e a criação, em quaisquer contextos onde tais termos possam ser usados.

Sam: Promethea já foi descrito como “um passeio cabalístico”, e traz uma empolgante visão geral das ciências ocultas. Ele abre a porta para este reino, e parece convidar as pessoas a aprenderem mais sobre ele. Foi esta a sua intenção?

Alan: A minha intenção original com Promethea, um título em que não perco muito tempo pensando hoje em dia, pois não me pertence, foi criar um modelo de história em quadrinho de super-heróis mais imaginativo e elaborado, usando as antigas heroínas do era da ficção pulp [pulp fiction] como meu ponto de partida.

Em uma ou duas edições, eu comecei a perceber como uma personagem desse tipo poderia evoluir para expressar de forma lúcida muitas das ideias que estavam há algum tempo no centro da minha mente e de todo o meu processo criativo.

Sam: Nos capítulos finais da série episódios inteiros foram usados para explorar cada esfera [sephirah] da Árvore da Vida. É verdade que você os escreveu enquanto se encontrava num estado de consciência alterada por rituais e meditações?

Alan: Eu comecei a explorar as esferas inferiores algum tempo antes de iniciar meu trabalho com Promethea. Minhas investigações se valiam tanto de rituais inventados quanto de drogas psicodélicas.

Após certo ponto em meu “passeio cabalístico”, eu senti a necessidade de experienciar as esferas mais elevadas, de forma a representá-las de forma autêntica para o leitor. Uma delas, Hokhmah, foi alcançada através dos métodos já mencionados, enquanto para as demais eu decidi testar se a meditação intensa focada na escrita criativa seria suficiente para adentrar tais reinos elevados da consciência e do ser.

Me valendo do critério, “se você não pode imaginar a experiência então provavelmente ainda não alcançou a esfera”, eu descobri que realmente poderia investigar todas as esferas superiores, para minha enorme satisfação.

A exceção foi Kether, neste caso eu comi um grande pedaço de haxixe, escrevi as três primeiras páginas da edição e depois praticamente desmaiei.

Sam: Os quadrinhos de Promethea se conectam com o conhecimento esotérico em múltiplas camadas. Para além das palavras e das imagens em si, por exemplo, os episódios que tratam das esferas da Árvore da Vida usam esquemas de cor apropriados para cada um dos reinos visitados. Isso lembra muito o Tarot Ritual da Golden Dawn, que usa as cores das esferas nos elementos simbólicos e no pano de fundo de forma a transmitir bastante informação logo que a carta é observada. O nível de detalhe em Promethea chega a atordoar – tudo isso foi planejado desde o início, ou foi crescendo conforme o título foi sendo escrito?

Alan: Conforme já foi dito, o ímpeto inicial se inclinava muito mais para uma narrativa mais tradicional, e o projeto pareceu evoluir intuitiva e organicamente conforme foi progredindo.

Sobre o assunto dos esquemas de cor cabalísticos, naquela altura eu já havia absorvido a lição de que enquanto os números, joias, plantas, animais, perfumes e divindades eram atributos das diversas esferas, as cores eram basicamente as esferas elas mesmas.

Apesar de na época não estarmos certos de que as várias escalas de cor seriam apropriadas em termos de publicação moderna de quadrinhos, nós decidimos tocar a ideia e, graças ao extraordinário trabalho de Jeremy Cox, formos recompensados com uma bela e envolvente demonstração do poder da atmosfera da decoração cabalística.

Sam: O desenhista, J. H. Williams III, disse que a criação do episódio sobre o Abismo cobrou o seu preço a todos os envolvidos no projeto. Houve outras experiências tão significativas durante o desenvolvimento de Promethea?

Alan: Bem, teve a minha experiência anterior a criação da edição sobre Hokhmah, que ocorreu junto à companhia de Steve Moore numa noite de sexta-feira, em 12 de Abril de 2002, quando estávamos tentando estabelecer se qualquer outra pessoa poderia ver a deusa lunar que ele havia passado cerca de um mês tentando materializar [imaginar], conforme descrevi na minha narrativa psicobiográfica, Unearthing.

O experimento foi não somente um aparente sucesso, como ocorreu no mesmo dia em que uma voz em minha cabeça (estranhamente, minha própria voz, embora dissociada da minha vontade) me disse que eu havia me tornado um mago [Magus], o que, ilusoriamente ou não, eu decidi levar a sério. Eu também recebi uma convicção muito firme de que a edição #32 de Promethea seria a última, e seria construída de alguma forma no formato de um pôster psicodélico.

Após Steve ter ido embora eu escrevi e digitei a edição sobre Hokhmah – foi a #22 ou algo assim – em menos de sete horas de um fluxo característico de energia criativa disforme e espontânea. Ainda não um exemplo de Moorcock em sua melhor forma, mas ainda assim alguma espécie de recorde pessoal.

Desde esse dia a minha vida e as minhas percepções têm sido notadamente diferentes.

Sam: Promethea é a última da longa lista de protagonistas femininas que você criou, desde Halo Jones em 2000AD. O que o atraiu a escrever sobre protagonistas mulheres?

Alan: Não acho que tenha escrito mais histórias com protagonistas femininas do que masculinos. Se parece haver uma preponderância de personagens femininos em minha obra, isso provavelmente nasceu da minha tentativa de abordar a desigualdade entre os gêneros que prevalece em nossa cultura.

Por outro lado, minha série baseada na obra de H. P. Lovecraft, Providence, mal tem quaisquer personagens femininos e, conforme se trata de um trabalho derivado da imaginação de um autor que é notoriamente avesso às mulheres, muitas das que aparecem com o tempo mostram serem monstros apavorantes.

Eu devo destacar que isso se dá por conta da percepção de mundo do Lovecraft, e não da minha.

Sam: No seu ensaio de 2002, Fossil Angels, você sugere que os rituais e a linguagem que circundam a magia conspiraram para manter a maioria das pessoas afastadas. Promethea por acaso foi uma tentativa de romper tais barreiras e despertar as massas para as tradições magísticas?

Alan: Todo o propósito do Moon and Serpent Grand Egyptian Theatre of Marvels (do qual Promethea é claramente uma parte não-oficial) desde o seu nascimento foi o de expressar as ideias da magia da forma mais bela e lúcida possível.

Em nosso Bumper Book of Magic nós vamos além e demandamos que os magos modernos se posicionem ao centro da sociedade, ao invés de se esconderem em suas margens, se engajando na ciência, na arte, na política, na filosofia e nas questões sociais, assim reconectando a magia com a população em geral, conforme ela foi inicialmente elaborada para servir e iluminar.

Sam: Você esteve trabalhando no Moon and Serpent Bumper Book of Magic com Steve Moore. Este trabalho mira apresentar o conhecimento esotérico de uma forma totalmente prática e compreensível. Seria correto dizer que esta obra seria um passo além de onde você parou com Promethea, e qual o estágio do seu desenvolvimento?

Alan: Seria mais preciso dizer que Promethea foi um instrutivo primeiro passo, um Moon and Serpent não-oficial que nos ajudou a moldar nossas ideias para este grimório mais sério e elaborado que nós sempre falamos em produzir um dia.

O ensaio final está concluído, mas ainda há algumas seções do texto que preciso retrabalhar e finalizar, e no momento ainda estamos em busca dos artistas apropriados para cada uma das suas seções. Penso que será lançado, no mínimo, em meados de 2016.

Sam: Quais foram as fontes que mais o ajudaram em sua própria jornada mágica?

Alan: Tudo o que li foi de alguma forma útil para mim, mesmo os dementes que aparecem de vez em quando, que nos dão uma instrução muito útil sobre como não pensar.

Pelo lado positivo, tenho de dizer que a obra de Robert Anton Wilson foi altamente iluminadora, que William Blake e Austin Osman Spare me trouxeram algumas bases inestimáveis e que, acima de tudo, a maior influência sobre minha teoria e prática mágicas foi, seguramente, Steve Moore.

Sam: Em Fossil Angels você alertou sobre a necessidade de uma série de mudanças de comportamento em relação à prática da magia. Você acredita que alguma coisa mudou desde que o seu ensaio foi publicado?

Alan: Usualmente tais ideias levam anos ou décadas para se tornarem visíveis. Eu tenho certeza de que houve mudanças aqui e ali, mas não esperaria ver ainda uma grande reação.

Eu penso que ainda há mais trabalho a ser feito sobre a definição ou redefinição da identidade pública da magia antes de podermos ver um número significante de pessoas tomaram este caminho de forma mais séria.

Sam: Por acaso você se sente relacionado com a tradição bárdica do druidismo e sua conexão com o Awen [inspiração poética]?

Alan: Certamente. A tradição bárdica da magia, onde as sátiras eram justificadamente mais temidas do que maldições, e os compositores eram respeitados como magistas poderosos, e não como músicos sobrevivendo às margens da indústria do entretenimento, é uma tradição que faria muito bem aos ocultistas e escritores que por ventura se interessem em se familiarizar. Você pode matar ou curar com a palavra. Arregace suas mangas e corra atrás deste conhecimento.

Sam: Você vê a magia cerimonial como algo acessível e sem grande complexidade para todos, sejam druidas, pagãos, cristãos, budistas, hindus, ou o que for?

Alan: Bem, se as pessoas estão imersas no que Robert Anton Wilson se referiu como “um túnel de realidade”, e a sua mentalidade religiosa dita que a magia é inexistente, má ou herege, então se relacionar com ela dificilmente será algo acessível ou simples. Eu creio que é melhor abordar a magia com uma mentalidade genuinamente aberta e nenhum “apego aos resultados”. Se a sua mente não está voluntariamente receptiva em sua porta de entrada, então é mais provável que ela seja arrombada pela experiência mágica em si mesma, com consequências possivelmente desastrosas.

Preconceitos religiosos ou racionalistas, creio eu, contribuem para o que William Blake chamou de “algemas forjadas pela mente”, e progredir mais neste assunto poderia se provar antiético.

Sam: Você é um reconhecido defensor de Northampton [cidade natal de Moore]. Seria parte disso uma conexão que você sente com a terra dos seus ancestrais?

Alan: Eu me sinto conectado com os processos históricos, geográficos, sociopolíticos e genéticos que resultaram nisto que eu sou. Da mesma forma, ao permanecer muito tempo num mesmo lugar você adquire uma compreensão mais profunda do seu significado e, por extensão, do significado que aguarda por ser descoberto em qualquer outro lugar do planeta.

E, claro, como destacou Spike Milligan, todos têm de estar em algum lugar.

Sam: Conte-nos mais sobre as performances musicais e teatrais das quais participou junto ao Moon and Serpent Grand Egyptian Theatre of Marvels. Tendo passado a maior parte de sua carreira nos teclados e máquinas de escrever, qual a importância desse tipo de performance ao vivo para você?

Alan: Na época das apresentações, eu sentia que era aquilo que nós fomos instruídos a fazer. Eu sempre gostei de performances, claro, dentro de certos limites. É uma experiência muito diferente de trabalhar nos teclados, como você disse.

No entanto, ultimamente eu tenho recusado muitas aparições ao vivo e apresentações. É que simplesmente não sinto que é o tipo de coisa em que devo me focar no momento.

Sam: Finalmente, você tem algum conselho para magos e artistas inexperientes que estejam nos lendo?

Alan: Sim. Lembre-se de que quando eu digo que a magia e a arte são equivalentes, você não deve deduzir que estou dizendo que a magia é somente arte; que estou de alguma forma tentando reduzir a magia ao associa-la com algo que todos creem ser algo comum e factível.

O que estou dizendo, em realidade, é que toda arte é e sempre foi tão somente magia, que todas as extraordinárias recompensas que dizem que podemos conquistar através da magia também podem ser alcançadas pela arte, e todos os horrores, pesadelos e perigos comumente associados à prática da magia também ameaçam o artista ou o escritor.

Aborde o seu trabalho com tanta reverência, compaixão, inteligência e precaução quanto você teria ao encontrar com um suposto anjo, deus ou demônio. A arte pode lhe matar ou lhe levar a loucura tanto quanto a invocação dos 72 Espíritos Infernais da Goétia de Salomão, e se você duvida disso, considere todos os artistas, poetas e atores que se suicidaram ou arruinaram suas vidas – aposto que a lista não será curta.

A arte e a magia são provavelmente as realizações mais preciosas da humanidade, elas são o nosso contato mais íntimo com a eternidade. Leve-as a sério; leve a sério a si mesmo, e lembre-se de que a sua arte e a sua magia são tão grandiosas, tão plenas de poder, tão perigosas e belas quanto você pode imaginá-las em seu ser.

Não as busque na esperança de obter dinheiro, poder, fama e status, ou como uma modinha, mas pelo que elas são em si mesmas. É este o significado da devoção, e se for praticada da forma certa, ela pode lhe transformar, assim como o mundo em que vive.

Oh, e encontre algum deus ou equivalente, ou melhor, deixe que um deus lhe encontre. Eu sugeriria um deus com algum cabelo estiloso, mas isso pode ser somente meu gosto pessoal. Boa sorte.

Comentário final
Devido a se tratar de uma entrevista já demasiado longa para ser publicada na íntegra aqui no blog, eu (Rafael Arrais) optei por ignorar algumas perguntas que, no fim das contas, são quase um “lugar comum” nas raríssimas entrevistas de Moore. Para quem tiver curiosidade, tais perguntas tratavam de Glycon (o controverso deus serpente da Antiguidade, o “deus escolhido” por Moore), das adaptações de suas obras para o cinema (em suma, ele continua achando tudo horrível e não quer tomar parte), de Grant Morrison (solenemente ignorado na resposta: “não creio que seja nem um escritor nem um mago”) e Austin Osman Spare (que Moore tem em grande crédito: “um mago quase perfeito”).

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